LIMA DE FREITAS
(Setúbal, Portugal, 1927 — Lisboa, 1998)
Pintor, desenhador, escritor
***
VIEIRA
DA SILVA E OS SERES DOS ESPELHOS (VIII)
(continuação)
Mas a cidade não é só motivo dos pintores poetas,
seduzidos pelo encanto de certas paisagens urbanas – como esses amantes de
Lisboa que são um Abel Manta, um Botelho – é também, e cada vez mais, o lugar
geométrico do pesadelo moderno.
Quem não sentiu a vertigem labiríntica das
grandes metrópoles, esse roçar de asa da loucura, perante a sinistra quantidade
das coisas, das pessoas, das multidões, a repetição infinita dos cansaços, das
esperas, dos obstáculos, das paredes, das distâncias, das ruas, dos automóveis?
Cidade pesadelo que acorda no artista a visão de outras cidades, possíveis e impossíveis:
cidades horror, votadas à catástrofe, como foram Sodoma e Gomorra e Hiroshima e Nagasaki;
cidades-radiosas da utopia; cidades-diferentes
do sonho, de outro espaço e outro tempo, cidades-aéreas,
cidades-reflexos, cidades-murmúrios…
(continua)
in ”Voz Visível” – Ensaios
– 1971
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