TEÓFILO BRAGA
(Ponta Delgada, Açores, Portugal, 1843 - Lisboa, 1924)
Poeta,
filósofo, ensaísta, político
***
A obra literária de
Teófilo Braga é imensa e portanto impossível de a enumerar exaustivamente.
Como investigador das
origens dos povos, seguiu a linha da análise dos elementos tradicionais desde
os mitos, passando pelos costumes e terminando nos contos de tradição oral, que
lhe permitiram escrever obras como Os
Contos Tradicionais do Povo Português, de 1883, O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições, em 1885, e
História da Poesia Portuguesa, que
lhe levou anos a escrever, procurando as suas origens através das várias épocas
e escolas.
As áreas restantes das
suas 360 obras, abrangem campos tão diversos como o da História Universal,
História do Direito, da Universidade de Coimbra, do Teatro Português, da
influência de Gil Vicente naquela forma de manifestação artística, da
Literatura Portuguesa, das Novelas Portuguesas de Cavalaria, do Romantismo em
Portugal, das Ideias Republicanas em Portugal, passando pelos folhetos de
polémica literária e política e ensaios biográficos, como o que respeita a
Filinto Elísio.
Foi Presidente da República
Portuguesa entre 29 de Maio de 1915 a 5 de Outubro de 1915.
Fonte: “Presidência da República
Portuguesa” (excertos)
***
A DOBADOIRA
Estava
à porta assentada,
dobando
a sua meada
A velhinha:
Lenço
branco na cabeça
A
madeixa lhe sustinha,
E
envolve-a como toalha;
Com
que pressa
Sentada à porta trabalha.
O sol doira
Seu cabelo,
Que
tem a cor da geada;
Para
passar o novelo,
A velhinha
De
vez em quando sustinha
A
gemente dobadoira;
Em que anda branca meada.
Na
dobadoira que gira,
Como
a mente que delira,
Nem
já toda a atenção pondo;
Nem
no novelo redondo
Aumentando
Ao
passo que o fio tira,
Todo
o seu cuidado emprega!
Pobre e cega,
Ansiada,
de quando em quando
Com que tristeza suspira!
Por
vezes o movimento
Claro exprime
Tumultuar
do pensamento,
Que
no imo da alma a oprime
E quase oura!
Muita
angústia e paciência
Reflecte-a
a intermitência
Do andamento
Ao voltear da dobadoira.
Fica-lhe
na mão suspensa
O novelo,
Concentrada
não o enleia;
Na
órfã netinha pensa!...
Vem-lhe à ideia
Por sua morte:
"Só,
no mundo! Entregue à sorte!
Pobre neta...
Pesadelo,
Que tanto a velhinha
inquieta.
Não
ouvindo a dobadoira,
Que
gemia intermitente,
Caindo
da mão dormente
O novelo...
Com desvelo,
A
neta, cabeça loira,
Vem à porta
Ver
o que foi; com susto olha:
Uma
lágrima inda molha
A face à velhinha morta.
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