CADA
PORTUGUÊS QUE SE PREZA
É escusado. Cada português
que se preza é uma muralha de suficiência contra a qual se quebram todas as
vagas da inquietação.
Conhece tudo, previu tudo, tem soluções para tudo. E
quando alguém se apresenta carregado de dúvidas, tolhido de perplexidades, vira-lhe
as costas ou tapa os ouvidos. Um mínimo de atenção ao interlocutor seria já uma
prova de fraqueza, uma confissão de falibilidade.
Quanto mais apertado o seu
horizonte intelectual, mais porfia na vulgaridade das certezas que proclama.
Não à maneira humilde e cabeçuda dos que se limitam a transmitir sem análise um
saber ancestral, mas como um presumido doutor, impante de mediocridade.
MIGUEL
TORGA - (São Martinho de Anta, Portugal, 1907 - Coimbra, 1995), poeta, escritor.
Sem comentários:
Enviar um comentário