sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

CADA PORTUGUÊS QUE SE PREZA




CADA PORTUGUÊS QUE SE PREZA


É escusado. Cada português que se preza é uma muralha de suficiência contra a qual se quebram todas as vagas da inquietação. 

Conhece tudo, previu tudo, tem soluções para tudo. E quando alguém se apresenta carregado de dúvidas, tolhido de perplexidades, vira-lhe as costas ou tapa os ouvidos. Um mínimo de atenção ao interlocutor seria já uma prova de fraqueza, uma confissão de falibilidade. 

Quanto mais apertado o seu horizonte intelectual, mais porfia na vulgaridade das certezas que proclama. Não à maneira humilde e cabeçuda dos que se limitam a transmitir sem análise um saber ancestral, mas como um presumido doutor, impante de mediocridade.




MIGUEL TORGA - (São Martinho de Anta, Portugal, 1907 - Coimbra, 1995), poeta, escritor.




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