sábado, 16 de janeiro de 2021

O GÉNIO POÉTICO E A ALQUIMIA




O GÉNIO POÉTICO E A ALQUIMIA


O homem de génio é um intuitivo que se serve da inteligência para exprimir as suas intuições. A obra de génio – seja um poema ou uma batalha – é transmutação em termos de inteligência de uma operação superintelectual. Ao passo que o talento, cuja expressão natural é a ciência, parte do particular para o geral, o génio, cuja expressão natural é a arte, parte do geral para o particular.

Um poema de génio é uma intuição central nítida resolvida, nítida ou obscuramente (conforme o talento que acompanhe o génio), em transposições parciais intelectuais.

Uma grande batalha é uma intuição estratégica nítida desdobrada, com maior ou menor ciência, conforme o talento do estratégico, em transposições tácticas parciais.

O génio é uma alquimia. O processo alquímico é quádruplo: 1) putrefacção; 2) albação; 3) rubificação; 4) sublimação. Deixam-se, primeiro, apodrecer as sensações; depois de mortas embranquecem-se com a memória; em seguida rubificam-se com a imaginação; finalmente se sublimam pela expressão.  
 




Fonte: “Goethe” - Páginas de Estética e de Teoria Literárias. Fernando Pessoa (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) 




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