O
GÉNIO POÉTICO E A ALQUIMIA
O homem de génio é um
intuitivo que se serve da inteligência para exprimir as suas intuições. A obra
de génio – seja um poema ou uma batalha – é transmutação em termos de
inteligência de uma operação superintelectual. Ao passo que o talento, cuja
expressão natural é a ciência, parte do particular para o geral, o génio, cuja
expressão natural é a arte, parte do geral para o particular.
Um poema de génio é uma
intuição central nítida resolvida, nítida ou obscuramente (conforme o talento
que acompanhe o génio), em transposições parciais intelectuais.
Uma grande batalha é uma
intuição estratégica nítida desdobrada, com maior ou menor ciência, conforme o
talento do estratégico, em transposições tácticas parciais.
O génio é uma alquimia. O
processo alquímico é quádruplo: 1) putrefacção; 2) albação; 3) rubificação; 4) sublimação.
Deixam-se, primeiro, apodrecer as sensações; depois de mortas embranquecem-se com
a memória; em seguida rubificam-se com a imaginação; finalmente se sublimam pela
expressão.
Fonte: “Goethe” - Páginas de Estética e de Teoria
Literárias. Fernando Pessoa (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg
Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.)
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