CARTA
DE MÁRIO DE ANDRADE À MÃE
Rio, 25-X-40
Mamãe
Desta vez estou lhe escrevendo só pra lhe
fazer uma porção de recomendações. É a respeito das minhas roupas etc. Imagine
que da última vez que vim d’aí trouxe a minha capa cinzenta que deixara em São
Paulo antes, e qual não foi a minha raiva de perceber que estava toda comida de
traça, com vários buraquinhos. É verdade que ela estava pra fora, pendurada no
cabide da parede e não dentro do guarda-roupa. Mas acho bom a Senhora examinar
bem os meus sobretudos e dar uma boa orvalhada de flit neles.
Também outra coisa que eu queria era que
a Senhora tratasse aí um engraxate pra engraxar todos os meus sapatos. Porque
deixados assim o couro resseca, ao mesmo tempo que o bolor come a graxa e
depois o couro quebra com facilidade. E não quero perder minha sapatada.
Desculpe estar lhe dando estas
caceteações, mas falo tudo de uma vez porque sempre me esqueço de lembrar essas
coisas, quando lhe escrevo. Mas o fato de ficar com minha capa quase perdida me
contrariou muito. [...]
[Acervo da família]
in “Casa Mário de Andrade”- Brasil
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