José Bento (Estarreja, Portugal, 1932).
É poeta e um excelente tradutor de muitos poetas de
língua espanhola, tais como: Pablo Neruda, Quevedo, Juan de la Cruz, António
Machado, Cervantes, Garcia Lorca, Unamuno.
Tem desenvolvido, ao
longo de várias décadas, um trabalho excepcional na divulgação da poesia
espanhola em Portugal.
É autor de várias colectâneas,
entre elas: Antologia
da Poesia Espanhola Contemporânea (que abarca o séc. XX) e de
dois volumes da Poesia Espanhola do
"Siglo de Oro".
Este é
um dos Lugares
Este é
um dos lugares (ou parte alguma?)
que nunca esperei ocupar ou ver sequer;
alheio em tudo, igual a tantos outros
que breves soube e de que nada guardo.
que nunca esperei ocupar ou ver sequer;
alheio em tudo, igual a tantos outros
que breves soube e de que nada guardo.
Um só
espaço em verdade me pertence,
- meu berço, meu texto, meu legado:
a casa que é a mãe e viverá
enquanto eu não abdique do seu sangue.
Lá estou e serei: sou as paredes,
- meu berço, meu texto, meu legado:
a casa que é a mãe e viverá
enquanto eu não abdique do seu sangue.
Lá estou e serei: sou as paredes,
a escuridão que a procura e adormece,
sublimando-a tanto como a luz,
trave do seu lar frio e seu apelo,
pelas janelas vendadas defendida.
Batei à porta, chamai do seu jardim
devastado até não me ser senão lembrança:
lá dentro, responderei, embora aqui,
desde sempre à espera de ninguém.
sublimando-a tanto como a luz,
trave do seu lar frio e seu apelo,
pelas janelas vendadas defendida.
Batei à porta, chamai do seu jardim
devastado até não me ser senão lembrança:
lá dentro, responderei, embora aqui,
desde sempre à espera de ninguém.
José Bento, in “Silabário”