AMORES
Trago o sentido perdido
Desde o dia em que te vi:
Se durmo, sonho contigo,
Se acordo, só penso em ti.
Apalpei meu lado esquerdo
Não achei meu coração,
De repente me lembrei
Que estava na tua mão.
À tua porta, menina,
‘stá um fio de algodão;
Todos passam, não se prendem,
Só eu fiquei na prisão!
Tenho cravos, tenho rosas,
Manjericões a nascer;
Tenho-te tanto amor
Que to não posso dize
Maria, minha Maria.
Maria, meu ai-Jesus,
No dia que te não vejo
Nem a candeia dá luz!
Triste sou, triste me vejo
Sem a tua companhia,
Tão triste, que nem me lembro
Se alegre fui algum dia.
À oliveira da serra
O vento leva a felor
Só a mim ninguém me leva
Para o pé do meu amor!
Quando vou à sua rua
E não vejo o meu amor,
E como se fora ao Céu
Sem ver a Nosso Senhor.
Tenho dentro do meu peito
Um cravo branco dourado,
Salpicado de águas tristes,
Que por ti tenho chorado.
A folha da oliveira
Em chegando ao lume estala;
Assim é meu coração
Quando contigo não fala.
Menina, que está à janela,
Com a sua mão no rosto,
Quem me dera ser a causa
Das penas do seu desgosto!
Aperta-me a minha mão,
Que é um sinal encoberto;
Antes que o mundo murmure
Ninguém o sabe de certo.
Cancioneiro Popular Português – Antologia organizada pela
professora Maria Arminda Zaluar Nunes.
Imagem: pintura de Mário Eloy (Lisboa, Portugal, 1900 –
1951).
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