MIKLÓS RADNÓTI
(Hungria, 1909 – 1944)
Poeta,
tradutor
***
Durante a guerra passou
por diversas dificuldades, vindo a ser preso e enviado ao campo de concentração
de Bor. Durante uma das chamadas Marchas da Morte, onde prisioneiros eram
obrigados a deslocarem-se a pé por centenas e até milhares de quilómetros,
Radnóti, já debilitado, foi por fim executado e sepultado em vala comum. Após a
exumação de seu cadáver, em 1946, foi encontrado no bolso de seu casaco um
caderno com os seus últimos poemas, publicados sob o título de Tajtékos ég (Céu Espumante).
***
CÉU ESPUMANTE
No
céu que espuma, a lua oscila.
Estar
vivo me causa espécie.
A
morte assídua espreita a Idade:
quem
ela encontre, empalidece.
O
ano grita e depois desmaia.
(Gritara
olhando ao seu redor.)
Que
Outono ronda-me de novo?
Que
Inverno embotado de dor?
Sangrava
o bosque; mesmo as horas
sangravam
no vaivém dos dias.
Ventos
riscavam, sobre a neve,
cifras
enormes e sombrias.
Já
vi de tudo; o ar me esmaga
com
seu peso; um silêncio cresce
ruidoso,
cálido e me abraça
como
fez antes que eu nascesse.
Detenho-me
junto de um tronco
que
agita iroso as frondes plenas
e
estende um galho. Há-de esganar-me?
Não
é fraqueza ou medo – apenas
cansaço.
Calo. E o galho apalpa
os
meus cabelos, mudo, aflito.
Cabe
esquecer – mas não há nada
de
que já tenha me esquecido.
Espuma
afoga a lua; o miasma
estria
os céus, verde e agressivo.
Sem
pressa, enrolo com cuidado
o meu cigarro. Eu estou vivo.
Tradução:Nelson Ascher
in “Segunda Guerra Mundial - Uma
Antologia Poética – Sammis Reachers