FERNANDO GUIMARÃES
(Porto, Portugal, 1928)
Poeta, tradutor, ensaísta
***
ARÚSPICE
Meu amor, as entranhas das vítimas conservaram o seu enigma,
o fogo nos altares apagou-se lentamente,talvez como outrora já não venham as pombas
alimentar-se de palavras em nossas mãos erguidas.
Pelo céu os cometas passaram mas a memória esquece
o vestígio de sangue que nos deixa o seu brilho.
A areia secou os rios, as nascentes,
enquanto só o tempo prolonga a nossa esperança.
Junto de nós, a rosa foi apenas o seu desenho de cinza,
uma criança nasce para sempre coroada de espinhos,
tornaram-se para sempre os nossos braços extensos e mais puros
para erguermos, amor, em cada cruz um homem.
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