ANTÓNIO FERREIRA
(Lisboa, Portugal, 1528 1569)
Humanista, dramaturgo, poeta
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É autor de sonetos, odes, éclogas, elegias,
epigramas e epístolas (recolhidos em Poemas Lusitanos, 1598), das
comédias Bristo e Cioso e da tragédia Castro, 1587. Como poeta,
discípulo de Sá de Miranda, é horaciano tanto nos modelos como nos ideais.
Censura o bilinguismo dos literatos seus
contemporâneos e incita-os a exaltarem a língua nacional, sendo defensor
acérrimo do purismo linguístico, mas o que perpetua o seu nome é a Castro,
justamente considerada a obra-prima do teatro clássico português e uma das mais
belas de todo o Renascimento.
in “Portugueses Célebres”
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AH! PORQUE NÃO POSSO EU EM PROSA, OU
RIMA
Ah! Porque não posso eu em prosa, ou rima
tão alto levantar o brando nome,
que em toda a praia estranha, estranho clima,
brandura a fera gente dele tome;
com que eu batendo as asas vá por cima
da baixa inveja, e assi a vença, e dome,
que em vão seus dentes quebre e dura lima,
em vão louvor esconda, erros assome?
Mas, pois não basta o esprito a empresa tanta,
bastar devia ao menos aqueixar-se
esta língua em mau mal só fria, e
muda.
Assi a clara vista me ata, e espanta,
que quando dela espero mor ajuda,
então a vejo em dano meu calar-se.