A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL (VII)
O número das pessoas que
entraram nos cárceres de Lisboa de 1540 a 1543 nem remotamente se pode
calcular. Tinham-se construído prisões especiais para os réus do judaísmo; mas
em breve esse receptáculo de supremas misérias ficou atulhado.
Converteu-se em masmorra
o vasto edifício das Escolas Gerais; mas as novas prisões dentro em pouco se
tornaram insuficientes. Os Estaus,
passos reais situados no Rossio, foram então entregues ao Santo Ofício. Não
bastaram, porém.
Os edifícios públicos da capital corriam risco de ser
transformados, uns após outros, em calabouços. Nos pátios interiores
edificaram-se umas como pocilgas para receberem novos hóspedes. A frequência
dos autos de fé devia, portanto, tornar-se em providência higiénica. Uma
epidemia podia surgir daqueles lugares infectos, dentre uma população empilhada
em recintos sem ar e sem luz, devorada pelos padecimentos físicos e
enfraquecida pela dor moral.
As fogueiras dos autos-de-fé, ao passo que eram
uma diversão para o povo, satisfaziam às indicações administrativas. As cinzas
dos mortos nem sequer ocupavam um breve espaço de terra; porque as correntes do
Tejo iam depositá-las no fundo solitário do mar.
in “História da Origem e Estabelecimento da Inquisição
em Portugal” - Alexandre Herculano.
Imagem: Procissão do auto de fé saindo do palácio da
Inquisição (Estaus) no Rossio de Lisboa.
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