domingo, 9 de fevereiro de 2020

A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL (VI)




A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL (VI)


Pode imaginar-se qual seria o terror dos indivíduos da raça proscrita quando ouviam da boca de um familiar do Santo Ofício a ordem para o acompanharem aos cárceres do tribunal. Entretanto ali, aqueles cujos ânimos eram mais fracos perdiam não raro o juízo. Dois presos conduzidos de Aveiro a Lisboa receberam tais tratos pelo caminho, e possuíram-se de tal aflição com a perspectiva do futuro, que, chegando ao seu destino, estavam completamente alienados. 

Uma pobre mulher, rodeada de cinco filhinhos, o mais velho dos quais contava apenas oito anos, conduzida à Inquisição, perguntava porque a prendiam e qual seria a sua sorte. Divertiram-se os familiares em persuadi-la de que ia ser queimada. Num acesso de loucura, a desgraçada precipitou-se de uma janela abaixo, e quando a foram buscar ao pátio onde caíra, acharam-na completamente desconjuntada. 

Esses terrores que cercavam aquela situação angustiada produziam o aborto quando as presas vinham grávidas. Havia dias em que sete ou oito eram metidas a tormento. Estas cenas reservavam-nas os inquisidores para depois do jantar. Muitas vezes, naquele acto, competiam uns com outros em mostrar-se apreciadores das formas humanas.




in “História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal” -  Alexandre Herculano.

Imagem: Inquisição: medo, tortura e fogueira

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