A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL (VI)
Pode imaginar-se qual
seria o terror dos indivíduos da raça proscrita quando ouviam da boca de um
familiar do Santo Ofício a ordem para o acompanharem aos cárceres do tribunal.
Entretanto ali, aqueles cujos ânimos eram mais fracos perdiam não raro o juízo.
Dois presos conduzidos de Aveiro a Lisboa receberam tais tratos pelo caminho, e
possuíram-se de tal aflição com a perspectiva do futuro, que, chegando ao seu
destino, estavam completamente alienados.
Uma pobre mulher, rodeada de cinco
filhinhos, o mais velho dos quais contava apenas oito anos, conduzida à
Inquisição, perguntava porque a prendiam e qual seria a sua sorte.
Divertiram-se os familiares em persuadi-la de que ia ser queimada. Num acesso
de loucura, a desgraçada precipitou-se de uma janela abaixo, e quando a foram
buscar ao pátio onde caíra, acharam-na completamente desconjuntada.
Esses
terrores que cercavam aquela situação angustiada produziam o aborto quando as
presas vinham grávidas. Havia dias em que sete ou oito eram metidas a tormento.
Estas cenas reservavam-nas os inquisidores para depois do jantar. Muitas vezes,
naquele acto, competiam uns com outros em mostrar-se apreciadores das formas
humanas.
in “História da Origem e Estabelecimento da Inquisição
em Portugal” - Alexandre Herculano.
Imagem: Inquisição: medo, tortura e fogueira
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