ALEXANDRE O'NEILL
(Lisboa, Portugal, 1924 - 1986)
Poeta
***
Foi um dos fundadores do
Movimento Surrealista de Lisboa.
***
AMÁLIA
Eu
já não sei, quando te ouço,
se
como caracóis ou mastigo alecrim,
se
me derramo pelo amor ou por um banco de jardim,
se
a gaivota voa fora ou voa dentro de mim,
se,
coisa cantante, um sentimento pode
apodrecer
ao sol,
se
o desgosto é gosto, ou o gosto é desgosto,
se
hei-de ir a Viana ou derivar por Lisboa,
até onde a voz se faz mais
rouca.
Eu
já não sei, quando te ouço,
que
pedrinhas atirar e a que janelas,
que
caretas fazer às feias, quer dizer, às menos belas,
que
mãos beijar, trincar, devorar
e
que anéis cuspir para as valetas.
Eu
já não sei, quando te ouço,
se trepe a estilita ou mergulhe
num poço.
Eu
já não sei, Amália,
donde
vem, para onde vai a tua voz,
que
rapaz, que rapariga
estão prometidos (e tão sós!)
na tua voz.
Sem comentários:
Enviar um comentário