ALFREDO BROCHADO
(Amarante, Portugal, 1897 – Lisboa, 1949)
Poeta
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Aquilino Ribeiro chamou-lhe o irmão franciscano de todos os escritores e artistas. E ainda hoje se torna difícil entender como, sendo ele um homem meigo e doce, de espírito generoso e afável, não teve piedade de si, ao socorrer-se do nó corredio de uma corda para pôr termo à vida por enforcamento. Os versos que nos deixou, quanto mais simples mais belos. Os seus cantos são como murmúrios, doce balir da inocência poética.
in “Dicionário da Língua Portuguesa”
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MÃEI
Dantes, quando a deixava,
As férias já no fim,
Ela vinha à janela
Despedir-se de mim.
Depois, quando na estrada,
Olhava para trás,
Deitava-me ainda a benção
Para que eu fosse em paz.
Dali não se movia,
À vidraça encostada,
Até que eu me perdia
Já na curva da estrada.
Hoje, se olho, calo-me
E baixo os olhos meus!
Já não vem à janela
Para dizer-me adeus!
Chove, e a chuva é fria.
Noite! Nos montes distantes
O Inverno principia.
Um Inverno como dantes.
Ao redor do lume aceso
Todos ficamos a olhar...
Todos não, não somos todos,
Porque há vazio um lugar.
Esse lugar era o dela,
Que ninguém mais preencheu.
Mesmo com vida, na terra,
Era uma estrela no céu.
in "Bosque Sagrado”
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