(Aljustrel, Portugal, 1907 - Coimbra, 2005)
Pastora, Vidente, Doroteia, Carmelita, Memorialista
***
ENTREVISTA
A LÚCIA DE JESUS
- Pergunta: Quantas vezes
o pároco a terá interrogado?
- Resposta: Não recordo quantas, foram muitas, porque
com frequência me mandava chamar para interrogar-me diante de outras pessoas, e
por vezes, diante de outros sacerdotes.
- Pergunta: Alguma vez o
pároco terá interrogado o Francisco e a Jacinta?
- Resposta: Sim, várias
vezes.
- Pergunta: Como é que as
pessoas tentavam que as crianças se desdissessem do que antes tinham dito?
- Resposta: De muitas maneiras, umas vezes com
promessas, outras com ameaças, outras contradizendo, insultando e quando
calhava, maltratando.
- Pergunta: A Jacinta
esquivava-se frequentemente às perguntas dizendo «a Lúcia é que deve saber».
Seria por ser mais nova ou por ter menos capacidade para perceber o que Nossa
Senhora dizia?
- Resposta: Não me parece que fosse por nenhum destes
motivos, mas sim pelo seu natural um pouco tímido em frente de estranhos e
talvez com medo de dizer alguma coisa que eu não quisesse que se dissesse.
- Pergunta: Recorda-se de
quando começaram a fazer sacrifícios voluntários corporais pelos pecadores?
- Resposta: Quando das aparições do Anjo.
- Pergunta: Porque só anos depois se conheceram as aparições do Anjo?
- Resposta: Em princípio fomos nós que não quisemos dizê-lo, depois o Sr. Bispo de Leiria, D. José, disse-me para não o dizer.
- Pergunta: Alguma vez lhe veio à ideia que se as aparições não fossem verdadeiras, a sua responsabilidade seria tremenda diante de Deus?
- Pergunta: Alguma vez lhe veio à ideia que se as aparições não fossem verdadeiras, a sua responsabilidade seria tremenda diante de Deus?
- Resposta: Não.
- Pergunta: Como
interpreta a imposição de silêncio acerca das aparições que lhe foi posta desde
o Asilo de Vilar?
- Resposta: Como norma de prudência.
- Pergunta: Já em
Aljustrel o Senhor Bispo de Leiria lhe pedia que não respondesse a toda a gente
sobre o que lhe perguntavam das aparições?
- Resposta: Sim.
- Pergunta: Será capaz de
fazer uma lista dos seus entrevistadores não cardeais desde Antero de
Figueiredo?
- Resposta: Não, porque foram muitos. Não lhes ligava
importância.
- Pergunta: Terão sido
fiéis, no que publicaram, ao que lhes foi dito?
- Resposta: Não sei,
porque durante muitos anos, não me foi permitido ler essas publicações.
- Pergunta: Gosta de
escrever?
- Resposta: Não o faço por gosto, mas por obediência,
condescendência e caridade.
- Pergunta: A Irmã confessou um dia que em criança «a vaidade era o seu pior ornamento». Quer confessar em que se notava essa vaidade?
- Resposta: No vestido, nos adornos, em cantar e bailar melhor que as outras crianças.
- Resposta: No vestido, nos adornos, em cantar e bailar melhor que as outras crianças.
- Pergunta: Alguma vez recebeu ameaças de morte?
- Resposta: Sim, já digo nas «Memórias», como nos ameaçou o Administrador, pouco depois uns senhores que foram a Aljustrel, dizendo que se não me resolvia a dizer o segredo, o Sr. Administrador me mandaria matar, em 13-V-1920, pela tropa de cavalaria e caminho de Aljustrel, que propôs enterrar-me numas covas que havia abertas para plantação de tanchões e de outros que por lá apareciam e se julgavam autorizados a insultar, maltratar, escarnecer e a ameaçar.
- Pergunta: Nunca desconfiou de que as palavras que lhe pareciam vir de Nossa Senhora podiam ser ditas por alguém que estivesse escondido atrás da azinheira a falar?
- Resposta: Sim, já digo nas «Memórias», como nos ameaçou o Administrador, pouco depois uns senhores que foram a Aljustrel, dizendo que se não me resolvia a dizer o segredo, o Sr. Administrador me mandaria matar, em 13-V-1920, pela tropa de cavalaria e caminho de Aljustrel, que propôs enterrar-me numas covas que havia abertas para plantação de tanchões e de outros que por lá apareciam e se julgavam autorizados a insultar, maltratar, escarnecer e a ameaçar.
- Pergunta: Nunca desconfiou de que as palavras que lhe pareciam vir de Nossa Senhora podiam ser ditas por alguém que estivesse escondido atrás da azinheira a falar?
- Resposta: Não, e creio que isso não era possível; em tal caso, ou se via a pessoa ou se não via ninguém, e não há nada, nem pessoa alguma que se pareça com Nossa Senhora ou que com Ela se possa confundir.
- Pergunta: Recorda-se de ter respondido ao Pároco, quando este lhe perguntou porque não revelava o segredo, que, se ele quisesse ia lá abaixo à Cova da Iria e perguntava à Senhora se lhe dava autorização para revelar o segredo?
- Resposta: Não recordo de ter dado tal resposta; penso que aí houve um mal entendido. Naturalmente, tanto ele como eu, sabíamos que Nossa Senhora não estava na Cova da Iria à minha disposição para eu lho ir perguntar, por isso penso que eu não podia ter dado essa resposta, a menos, que tenha sido num dia 13 antes do meio dia.
- Pergunta: Acredita no inferno?
- Resposta: Não recordo de ter dado tal resposta; penso que aí houve um mal entendido. Naturalmente, tanto ele como eu, sabíamos que Nossa Senhora não estava na Cova da Iria à minha disposição para eu lho ir perguntar, por isso penso que eu não podia ter dado essa resposta, a menos, que tenha sido num dia 13 antes do meio dia.
- Pergunta: Acredita no inferno?
- Resposta: Sim, acredito.
- Pergunta: A ideia de
fazer da corda cilício surgiu espontaneamente ou tinha
conhecimento de que alguns santos a usava?
- Resposta: Foi espontânea.
- Pergunta: Recorda em que
lugar encontrou a corda?
- Resposta: Sim, na estrada um pouco antes de chegar ao
barreiro.
- Pergunta: Que pensa hoje
acerca desses sacrifícios corporais que até Nossa Senhora moderou?
- Resposta: Penso que eles agradaram a Deus, porque
Nossa Senhora disse: «Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não
quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia».
- Pergunta: Pode citar o nome de alguma pessoa que lhes chamasse intrujões?
- Resposta: Podia, mas não me parece necessário nem caritativo.
- Pergunta: Lúcia, teve alguma vez consciência de que as suas revelações causavam embaraço às autoridades eclesiásticas?
- Resposta: Nunca pensei nisso, e muitas vezes perguntei a mim mesma: para que querem saber tudo? A mim não me importa saber do que os outros viram!
- Pergunta: Lúcia, teve alguma vez consciência de que as suas revelações causavam embaraço às autoridades eclesiásticas?
- Resposta: Nunca pensei nisso, e muitas vezes perguntei a mim mesma: para que querem saber tudo? A mim não me importa saber do que os outros viram!
- Pergunta: Alguma vez imaginou que a terceira parte do segredo poderia ter o destino que teve indo para o Vaticano?
- Resposta: Não.
- Pergunta: Alguém a aconselhou, em 1941, a não escrever a terceira parte do segredo?
- Resposta: Não, porque ninguém sabia, a não ser o Sr. Bispo que era quem mo mandava.
- Pergunta: O padre Marques Ferreira alguma vez lhes chamou “mentirosos” depois das aparições?
- Resposta: Chamar mentirosos, propriamente dito, não,
perguntava: vocês não estarão a mentir? Não será tudo isso uma intrujice?
- Pergunta: Alguém,
durante ou depois das aparições, lhe dava conselhos para que fosse cautelosa
nas respostas aos interrogatórios?
- Resposta: Só depois das aparições, o Sr. Vigário do
Olival e o Sr. Bispo de Leiria me recomendaram que respondesse com o mínimo de
palavras que me fosse possível e me escapasse quando pudesse. Era o que já
fazia.
- Pergunta: Recorda-se de
algum milagre esplendoroso ainda durante as aparições?
- Resposta: Só recordo o milagre do sol.
- Pergunta: O Sr. Bispo de Leiria já tinha imposto silêncio enquanto estava ainda em Aljustrel?
- Resposta: Imposto não, tinha-o recomendado quanto fosse possível.
- Pergunta: O Sr. Bispo de Leiria já tinha imposto silêncio enquanto estava ainda em Aljustrel?
- Resposta: Imposto não, tinha-o recomendado quanto fosse possível.
- Pergunta: Acha que a limitação das entrevistas que se faz ainda hoje, é para não lhe permitir contradizer-se ou por outros motivos?
- Resposta: Tenho entendido que é por uma norma de protecção e defesa.
- Resposta: Tenho entendido que é por uma norma de protecção e defesa.
- Pergunta: Quantas vezes a mãe de Lúcia lhe terá batido por causa das aparições?
- Resposta: Não sei, não recordo quantas foram.
- Pergunta: Para além da
hipótese de ilusão diabólica, o pároco ou outros terão procurado inquirir na
direcção de qualquer delírio, ou sonho, ou mesmo impostura das crianças,
movidas pelo desejo de se evidenciar?
- Resposta: Sim.
Pergunta: Falando com toda
a franqueza, os sacerdotes que a interrogaram pareceram-lhe mais inclinados a
aceitar ou a recusar?
- Resposta: A
recusar.
- Pergunta: Que
comentários faz Lúcia às várias versões do segredo que correm mundo?
- Resposta: Nenhuns, deixo
correr, prefiro o silêncio.
- Pergunta: Sente-se
desgostosa quando é chamada para entrevistas?
- Resposta: Sim.
*
NOTA : Há 121 perguntas formuladas às quais a entrevistada não pôde responder sem autorização da Santa Sé.
*
Entrevista conduzida pelo P. Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima. (20/Fev/1993) (excertos)
in “Lúcia de Jesus –
Memórias”
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