sexta-feira, 30 de agosto de 2013

LUÍSA DACOSTA

 

Luísa Dacosta nasceu em Vila Real no dia 16 de Fevereiro de 1927.

É formada em Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras, em Lisboa. Foi professora do antigo Ciclo Preparatório nas escolas Ramalho Ortigão e Francisco Torrinha, até se reformar por limite de idade.

         Foi colaboradora de vários jornais e revistas.

         A sua obra inclui romance, crónicas, poesia, autobiografia, diários e participação em várias antologias.

          Luísa Dacosta conheceu intensamente a vida das mulheres de “A-Ver-o-Mar”, que a inspiraram para tema de vários livros, como “Morrer a Ocidente”; “Nos Jardins do Mar”, entre outros.

          A condição da mulher é também abordada no romance “Corpo Recusado”.

          A sua sensibilidade levou-a a publicar alguns livros dedicados às crianças.

          Em 1975 esteve em Timor requisitada pelo governo de então, para prestar serviço na Comissão encarregada de fazer a remodelação dos programas de ensino.

          Luísa Dacosta recebeu vários prémios pela qualidade do seu trabalho.


Da margem do sonho

e do outro lado do mar

alguém me estremece

sem me alcançar.

 

Um bafo de desejo

chega, vago, até mim.

Perfume delido

de impossível jasmim.

É ele que me sonha?

Sou eu a sonhar?

Sabê-lo seria

Desfazer no vento,

tranças de luar.

Nuvens,

barcos,

espumas

desmancham-se na noite.

E a vida lateja longe,

num outro lugar.                   

Luísa Dacosta. in “Cem Poemas Portugueses no Feminino”.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ANTÓNIO MARIA LISBOA

 
 
           António Maria Lisboa nasceu em Lisboa, no dia 1 de Agosto de 1928, e viveu até 11 de Novembro de 1953.
          Foi, com Mário Cesariny, um dos fundadores do Surrealismo em Portugal.
          Colaborou nas publicações “República”, “Árvore” e “Afixação Proibida”.      
          Algumas das suas obras: “Ossóptico”; “A Verticalidade e a Chave”; “Exercício sobre o Sono e a Vigília de Alfred Jarry seguido de O Senhor Cágado e o Menino”.
          Em 1980 foi publicado um volume com a sua obra completa.
 
  
                         Rêve Oublié
 
Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti
Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna
Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo
Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada
Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro
E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.
 
 António Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas".
 
         
 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

MANUELA MARGARIDO

 
 
          Manuela Margarido  nasceu na Ilha do Príncipe em 1925, e viveu até 10 de Março de 2007.
        É considerada um dos principais nomes da poesia do seu País. 
        Através dos seus poemas divulgou a repressão e a miséria vividas pelos seus conterrâneos nas roças do cacau e do café.
       
         Esteve exilada em Paris, onde estudou na Sorbonne.
         Foi embaixatriz de São Tomé e Príncipe em Bruxelas.
             Em Lisboa, onde viveu, Manuela Margarido desenvolveu um intenso trabalho na divulgação da cultura do seu País.
        Foi membro do Conselho Consultivo da revista “Atalaia”, e do “Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa”.
 
 
Memória da Ilha do Príncipe
 
Mãe, tu pegavas charroco
nas águas das ribeiras
a caminho da praia.
Teus cabelos eram lembas-lembas,
agora distantes e saudosas,
mas teu rosto escuro
desce sobre mim.
Teu rosto, liliácea
irrompendo entre o cacau,
perfumando com a sua sombra
o instante em que te descubro
no fundo das bocas graves.
Tua mão cor-de-laranja
oscila no céu de zinco
e fixa a saudade
com uns grandes olhos taciturnos.

(No sonho do Pico as mangas percorrem a órbita lenta
das orações dos ocãs e todas as feiticeiras desertam
a caminho do mal, entre a doçura das palmas).

Na varanda de marapião
os veios da madeira guardam
a marca dos teus pés leves
e lentos e suaves e próximos.
E ambas nos lançamos
nas grandes flores de ébano
que crescem na água cálida
das vozes clarividentes.



terça-feira, 27 de agosto de 2013

KONSTANTINOS KAVÁFIS

 
 
      Konstantinos Kaváfis nasceu em Alexandria, Egipto, no dia 29 de Abril de 1863 e viveu até 29 de Abril de 1933.
       
        Apesar de ter nascido no Egipto, Konstantinos era grego, porque pertencia à importante colónia helénica existente na sua terra natal.
       
        Viveu sete anos em Inglaterra. O seu primeiro verso foi escrito em inglês.
       
        O poeta não publicou qualquer livro. Os seus poemas, de estilo alexandrino, foram editados em várias revistas literárias e folhas soltas.
       
        No entanto, após a sua morte, foi publicado um livro com 150 poemas.
        Konstantinos Kaváfis é considerado um dos maiores nomes da poesia em idioma grego moderno, e dos poetas mais lidos pelos tradutores e estudiosos brasileiros.
 
 
 
A Cidade
 
 
Dizes: “Vou para outra terra, vou para outro mar.
Noutro lugar, melhor cidade há­‑de haver certamente.
Será malogro, está escrito, tudo o que aqui tente
e - como morto - o coração sepultado aqui me jaz.
Por quanto tempo há­‑de ficar minh'alma em tão podre paz?
Pra todo o lado olhei, em todo o lado vi
ruínas negras desta minha vida aqui,
que tantos anos eu gastei a estragar, a dissipar.
 
 
Novo lugar não vais achar, nem achar novos mares.
Vai­‑te seguir esta cidade. Ruas vais percorrer,
serão as mesmas, e nos mesmos bairros hás­‑de viver,
nas mesmas casas ficará de neve o teu cabelo.
Hás­‑de ir ter sempre ao mesmo sítio, sem qualquer apelo.
Para outro lugar não há navio ou caminho
e estragares a vida tu neste cantinho
é pois igual a nesse largo mundo a dissipares.
 
 
Konstantínos Kaváfis, in “Poemas Canónicos”.
 
 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

CASTRO ALVES




         Castro Alves nasceu na cidade de Curralinho, no Estado da Bahía, em 14 de Março de 1847, e viveu até 6 de Julho de 1871.

        Em 1863 publicou o primeiro poema: “A Primavera”.

        As suas poesias expressam a repulsa pela escravidão e denunciam os grandes problemas sociais da sua época. Ficou conhecido como o “Poeta dos Escravos”.

       É considerado um dos mais brilhantes poetas românticos brasileiros. Recitava, com enorme sucesso, os seus poemas líricos e heróicos, nas festas literárias, para as quais era convidado.

        Os seus principais livros são: "Espumas Flutuantes"; "A Cachoeira de Paulo Afonso"; "Gonzaga ou a Revolução de Minas"; "Os Escravos", no qual estão inseridos os poemas "Vozes d'África" e "O Navio Negreiro", considerados os dois poemas mais representativos de sua obra.

       Toda a sua criação literária foi reunida em dois volumes, com os títulos : “Relíquias” e “Correspondência”.

       É patrono da cadeira nº7 da Academia Brasileira de Letras.

           
                            A Criança

 
Que tens criança? O areal da estrada
Luzente a cintilar
Parece a folha ardente de uma espada.
Tine o sol nas savanas. Morno é o vento.
À sombra do palmar
O lavrador se inclina sonolento.


É triste ver uma alvorada em sombras,
Uma ave sem cantar,
O veado estendido nas alfombras.
Mocidade, és a aurora da existência,
Quero ver-te brilhar.
Canta, criança, és a ave da inocência.


Tu choras porque um ramo de baunilha
Não pudeste colher,
Ou pela flor gentil da granadilha?
Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma,
Para em teus lábios ver
O riso — a estrela no horizonte da alma.


Não. Perdeste tua mãe ao fero açoite
Dos seus algozes vis.
E vagas tonto a tatear à noite.
Choras antes de rir... pobre criança!...
Que queres, infeliz?...
— Amigo, eu quero o ferro da vingança.

 

Castro Alves, in “O Navio Negreiro e outros Poemas”.

domingo, 25 de agosto de 2013

MARIA ALBERTA MENÉRES

 
Maria Alberta Menéres nasceu em Vila Nova de Gaia no dia 25 de Agosto de 1930.
Escritora, poetisa, jornalista, professora e tradutora.
É licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas.
Tem valiosa participação em jornais e revistas literárias.
Entre 1975 e 1986, dirigiu o Departamento de Programas Infantis e Juvenis da Radiotelevisão Portuguesa.
Organizou a “ Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa”.
Foi, durante cinco anos, assessora do Provedor de Justiça, como criadora da linha telefónica grátis “Recados da Criança”.
Recebeu o “Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens”, pelo conjunto da sua obra literária e o “Prémio do Concurso Internacional de Poesia Giacomo Leopardi”.
No dia 8 de Junho de 2010 foi agraciada com o grau de “Comendadora da Ordem do Mérito”.
 
AS PEDRAS
 
As pedras falam? pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.

Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?

As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.

Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como aves
e nem mais tarde regressam.

Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.

Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.

As pedras falam? pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
um coisa para dizer.


 

sábado, 24 de agosto de 2013

ADÍLIA LOPES

 
 
         Adília Lopes nasceu em Lisboa, no dia 20 de Abril de 1960.
        É poetisa, tradutora e cronista.
        Licenciou-se em “Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa”, na Faculdade de Letras de Lisboa.
        Publicou o seu primeiro livro de poemas em 1985, denominado “Um Jogo Bastante Perigoso”.
        Seguiram-se os livros: “O Poeta de Pondichéry”; “O Decote da Dama de Espadas”; “Os 5 Livros de Versos Salvaram o Tio”; “Sete Rios Entre Campos”; “Obra”, entre outros.
        Muitos dos seus poemas foram traduzidos para italiano, castelhano, inglês, servo-croata, alemão, francês e holandês.
        No Brasil, foi publicado, em 2002, um volume de poemas intitulado: “Antologia Poética”.
 
Minha Avó e Minha Mãe
 
 
Minha avó e minha mãe
perdi-as de vista num grande armazém
a fazer compras de Natal
hoje trabalho eu mesma para o armazém
que por sua vez tem tomado conta de mim
uma avó e uma mãe foram-me
entretanto devolvidas
mas não eram bem as minhas
ficámos porém umas com as outras
para não arranjar complicações.


Adília Lopes, in “A Pão e Água-de-Colónia”
 
 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

EUGÉNIO DE CASTRO

 
Eugénio de Castro nasceu em Coimbra a 4 de Março de 1869, e viveu até 17 de Agosto de 1944.
Formou-se em Letras na Universidade de Coimbra, onde foi professor universitário.
Em 1884, iniciou a publicação das suas obras poéticas. Foi um dos fundadores da revista internacional “Arte”, que difundia os textos de escritores nacionais e estrangeiros.
Colaborou nas revistas "Os insubmissos" e "Boémia Nova", ambas seguidoras do Simbolismo Francês.
Regressado de França, publicou “Oaristos” que representou um marco para o início do Simbolismo em Portugal. Pode-se considerar esta, como a primeira fase da obra de Eugénio de Castro. A segunda fase, que inclui os poemas escritos durante o século XX, revela um poeta neoclássico.
O poeta Albano Martins organizou, para a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, uma Antologia de Eugénio de Castro, antecedida de um prefácio, de sua autoria.
 
                                      Presságios

Quando eu nasci, tocava o fogo
Na minha freguesia,
E um meu vizinho, que perdera ao jogo,
Golpeava as veias, quando eu nascia.

Chegando ao mundo, comigo vinha
Uma irmãzinha,
Pó que, mudado em flor, voltou logo a ser pó...
E eu comecei, chegando ao mundo, a ver-me só...

A linda gémea, que Deus me dera,
Logo morria, mal nascera,
Morria logo...
Na freguesia, tocava a fogo...

Com tais avisos, com tais presságios,
Breve me afiz a padecer, sem protestar,
Ódios, tormentos, decepções, lutos, naufrágios,
Os idos, os de agora e os mais que hão-de chegar.


Eugénio de Castro, in “Antologia”




quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ALGUMAS COISAS PARA FAZER ANTES DE MORRER

 
 

- Ficar uma semana sem tomar banho.

- Fazer amizade com uma pessoa excêntrica.

- Dar a você mesmo um presente caríssimo.

- Trocar um vício por um novo hábito.

- Não acreditar 100% em algo ou alguém.

- Viver a vida como única, e o instante como último.

- Descrer das verdades estabelecidas.

- Dormir numa rede em casa construída sobre uma árvore.

- Aconselhar-se com uma criança.

- Suspeitar do médico.

- Comprar roupa que nunca vai usar, pensando que vai.

- Cantar ópera (onde quiser).

- Dar um presente a um desconhecido.

- Namorar o(a) porteiro(a).

- Guardar um segredo para sempre.

- Dormir num estábulo.

- Fazer amor no feno.

- Sair nu(a) no carnaval.

- Consultar uma cartomante.

- Propor pagar uma dívida com a entrega de um rim.

- Separar o trigo do joio e colher o joio.

 - Aprender um ofício inútil.

 - Começar um empreendimento depois dos 80.

 - Namorar sem pensar em casamento.

 - Aprender com os estúpidos

 - Amar, amar de novo, amar sempre.

   

   E… sugiro eu, José Eduardo Taveira, escrever um poema de amor à VIDA!

 

 Notas:

- Excerto de um artigo publicado na Revista Bula — Literatura e Jornalismo Cultural.

- A imagem publicada exibe o Relógio Astronómico de Praga.

 

 

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...