Mário
Cesariny nasceu em Lisboa, no dia 9 de Agosto de 1923, e viveu até 26 de
Novembro de 2006.
Poeta, pintor, e historiador, assumiu
integralmente o surrealismo português, considerando-o um meio de rebeldia,
tanto na arte, como na vida, sobretudo contra o regime salazarista.
Completou o curso de cinzelagem na Escola de
Artes Decorativas António Arroio, onde conheceu alguns dos futuros pintores
surrealistas.
Estudou música com o compositor Fernando
Lopes Graça.
Em Paris, frequentou a “Académie de la
Grande Chaumière”, onde conheceu André Breton, um escritor e poeta francês,
teórico do surrealismo.
A partir de meados dos anos 60, Cesariny
dedicou-se exclusivamente à pintura.
Da sua obra, destacam-se os livros:
“Corpo Visível”, “Louvor Simplificação de Álvaro de Campos”, “Manual de
Prestidigitação”, “Pena Capital”, “Nobilíssima Visão”, “As Mãos na Água a
Cabeça no Mar”, “Primavera Autónoma das Estradas”, “Poesia, “Burlescas,
Teóricas e Sentimentais”, “Titânia e a Cidade Queimada”, “O Virgem Negra”, “Fernando
Pessoa Explicado às Criancinhas Naturais & Estrangeiros”.
Recebeu o “Grande Prémio Vida Literária”,
da Associação Portuguesa de Escritores.
Foi galardoado com a
Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Doou, em vida, o seu espólio à Fundação
Cupertino de Miranda.
Pastelaria
Afinal o que importa não é a literatura
nem
a crítica de arte nem a câmara escura.
Afinal
o que importa não é bem o negócio
nem
o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio.
Afinal
o que importa não é ser novo e galante
-
ele há tanta maneira de compor uma estante.
Afinal
o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e
cair verticalmente no vício.
Não
é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes
de haver cinema madame blanche e parola.
Que
afinal o que importa não é haver gente com fome
porque
assim como assim ainda há muita gente que come.
Que
afinal o que importa é não ter medo
de
chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente!
Este leite está azedo!
Que
afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à
saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora – rir de tudo.
No
riso admirável de quem sabe e gosta
ter
lavados e muitos dentes brancos à mostra.
Grande Cesariny
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