AUGUSTO ABELAIRA
(Coimbra, Portugal, 1926 - Lisboa, 2003)
Dramaturgo,
tradutor, jornalista
***
QUEM ERA NA VERDADE, FERNANDO PESSOA? (I)
Quem
era na verdade, Fernando Pessoa? Em que medida foi ele sincero?
Pessoalmente
creio muito pouco que tal problema possa vir a ser resolvido com inteira
objectividade. Conforme a constituição psicológica de cada um dos indivíduos
que lhe estude a obra, assim teremos uma resposta diferente. (Aliás, se não me
engano, tal facto sucede com todos os problemas e não só com estes…) e uns
dirão que Pessoa é um fingidor, outros que é inteiramente sincero e outros
ainda – sem dúvida dando largas a uma maior subtileza crítica -, que Pessoa é
sinceramente insincero.
Afirmando
isto, em que Fernando Pessoa se pensa? Só no poeta, ou no ensaísta também?
Quanto
a mim, creio que valeria a pena ver até que ponto o ensaísta Pessoa poderia
iluminar o poeta. É claro que não julgo que tal ponto de vista seja melhor ou
pior que qualquer outro. É apenas outro.
Até
que ponto o ensaísta Pessoa poderia iluminar o poeta, disse eu? Bem. Mas antes de prosseguir, há que
distinguir hipóteses: a) quer-se
dizer com aquilo, achar-se útil ver o que Pessoa – como ensaísta – diz de si
próprio? b) Achar-se útil ver o que
Pessoa diz dos outros (e por tabela, descobrir que os outros são para Pessoa,
despersonalizações dele – ou coisa parecida? c) Ou então que se acha útil ver o que Pessoa diz dos problemas em
geral (e descobrir a posição de Pessoa perante o Homem, a Filosofia, a Arte e
ainda por tabela, ver nessas ideias o que ele é, ou desejava ser)?
in ‘Mundo Literário – Semanário de Crítica e Informação Literária, Científica e Artística’ – 1947
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