YVES BONNEFOY
(França, 1923 - 2016)
Poeta
***
A FALA DA NOITEO país do princípio de Outubro só tinha
Frutas a se rasgar no chão, seus passarinhos
Chegavam a soltar gritos de ausência e pedra
No alto flanco curvado vindo rumo a nós.
Minha fala da noite,
Como uva de um Outono tardio tens frio,
Mas o vinho já queima em tua alma e eu encontro
Meu só real calor: teu verbo fundador.
A nave de um findar de Outubro, claro, pode
Vir. Saberemos misturar as duas luzes,
Ó minha nave iluminada em mar errante.
Clarão de noite perto e clarão de palavra,
— Bruma que subirá de toda coisa viva
E tu, meu rubescer de Lâmpada na morte.
Tradução: Mário Laranjeira
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