RAMIRO CALLE
(Madrid, Espanha, 1943)
Escritor,
mestre de yoga
***
A POMBA E A ROSA
O Sol começava a despontar. Os primeiros raios
rasgaram a escuridão da noite e, com a claridade do novo dia, uma pomba,
volitando, entrou inadvertidamente num templo. Todas as paredes do santuário
estavam cobertas com espelhos. No centro do santuário, em oferenda ao Absoluto,
o sacerdote colocara uma belíssima rosa, que se reflectia nos espelhos
provocando inúmeras imagens de si mesma. A pomba, tomando os reflexos da rosa
pela rosa verdadeira, começou a lançar-se contra um e outro espelho, chocando
violentamente contra eles, incansavelmente, até que o seu pequeno e frágil
corpo sucumbiu. Morta, a pomba tombou sobre a rosa.
Em qualquer ser humano encontra-se o real e o
adquirido; o essencial e o aparente. A busca do bem-estar exterior deve ser
associada e complementada com a busca do bem-estar interior. Se uma pessoa
puser toda a sua energia ao serviço da aparência, da imagem e da personalidade,
consumirá a sua vida cativa dos reflexos, e de costas viradas para a sua
natureza real, ou essência. É preciso aprender a distinguir entre o acessório e
o substancial mediante o discernimento correcto, e ir recuperando esse “eu
verdadeiro”, diferente do “eu social”. A rosa do conhecimento desponta dentro
de nós mesmos.
in ‘Os Melhores Contos Espirituais
do Oriente’
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