JOSÉ CARDOSO PIRES
(Vila de Rei, Portugal, 1925 - Lisboa, 1998)
Escritor, crítico literário
***
JOÃO ABEL MANTA (III)
(continuação)
Quem vê os portugueses de cartola e de barbas honradas saídos da pena sábia de João Abel é tentado imediatamente a pensar numa crítica directa às glórias da caldeira a vapor, papéis do Estado a 3,5 por cento, bem-estar social repousado em cotações assentes. Será um pouco isso e muito mais, parece-me.
Semelhante mensagem mostra-se simplista e imediata em demasia para que possa justificar tamanha abundância de símbolos; o tecido dos figurinos seria excessivamente «um tecido» depois de desenhado com tantas fibras.
Além de que poderia perguntar-se: crítica a que época? E a que país? Mais ainda: se de crítica à burguesia se trata, não é verdade que os antiburgueses de João Abel, os operários por exemplo, aparecem limpos e muito, mas mesmo muito, «convenientes» e instalados – arrumados, digo antes – na «condição que lhes compete»? Ou tratar-se-á então de uma elegia de valores de um mundo em equilíbrio estável?
Semelhante mensagem mostra-se simplista e imediata em demasia para que possa justificar tamanha abundância de símbolos; o tecido dos figurinos seria excessivamente «um tecido» depois de desenhado com tantas fibras.
Além de que poderia perguntar-se: crítica a que época? E a que país? Mais ainda: se de crítica à burguesia se trata, não é verdade que os antiburgueses de João Abel, os operários por exemplo, aparecem limpos e muito, mas mesmo muito, «convenientes» e instalados – arrumados, digo antes – na «condição que lhes compete»? Ou tratar-se-á então de uma elegia de valores de um mundo em equilíbrio estável?
(continua)
in “Cartilha do Marialva”
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