“Um rato, que fugia de um homem, saltou
para a garupa de um camelo e, imitando o dono, estalou a língua, chicoteou as
duas bossas, dando-lhe ordem para se levantar e andar. O camelo não disse nada
e saiu bamboleante.
O
rato, orgulhoso, seguro do seu poder, dava pulos de alegria sobre a montanha de
pêlos.
Ao chegar à margem de um
riacho, o camelo pediu ao rato que descesse e fosse à sua frente, para guiá-lo
puxando os arreios.
-
Rato, meu cameleiro, mostra-me o caminho, pois sou apenas uma montaria. Tu,
sim, sabes o caminho.
- É que… neste
riacho…tenho medo de me afogar!
Então, o camelo disse:
- Eu também nunca fiz
isto sozinho. Gostaria que hoje tu tentasses.
E, de seguida, molha os
pés afirmando que a água não é funda, que nem chega à parte de baixo dos seus
jarretes.
-
Sim, mas – diz o rato – o que para ti é minúsculo para mim é uma montanha, e a
pulga que te pica para mim é um elefante dos trópicos. O que é um fio de água
para ti, para os ratos é um oceano revolto. Não posso guiar-te.
- Então
- diz o camelo – deixa de te comportar como se fosses superior, desce da montaria
para pensares numa forma de escapares ao homem que está atrás de ti e não tarda
a chegar.
- Perdão – diz o rato –
faço-te mil súplicas de joelhos: atravessa-me. Vou percorrer montes e dunas
cantando-te louvores e dizendo que o camelo é o mais sábio dos animais.”
Karl Schmit, in “O Elogio da Sabedoria”.