quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O RATO E O CAMELO – Conto Tuaregue

 

                
                “Um rato, que fugia de um homem, saltou para a garupa de um camelo e, imitando o dono, estalou a língua, chicoteou as duas bossas, dando-lhe ordem para se levantar e andar. O camelo não disse nada e saiu bamboleante.

                 O rato, orgulhoso, seguro do seu poder, dava pulos de alegria sobre a montanha de pêlos.

                Ao chegar à margem de um riacho, o camelo pediu ao rato que descesse e fosse à sua frente, para guiá-lo puxando os arreios.

               - Rato, meu cameleiro, mostra-me o caminho, pois sou apenas uma montaria. Tu, sim, sabes o caminho.

               - É que… neste riacho…tenho medo de me afogar!

                Então, o camelo disse:

              - Eu também nunca fiz isto sozinho. Gostaria que hoje tu tentasses.

                E, de seguida, molha os pés afirmando que a água não é funda, que nem chega à parte de baixo dos seus jarretes.

             - Sim, mas – diz o rato – o que para ti é minúsculo para mim é uma montanha, e a pulga que te pica para mim é um elefante dos trópicos. O que é um fio de água para ti, para os ratos é um oceano revolto. Não posso guiar-te.

             - Então - diz o camelo – deixa de te comportar como se fosses superior, desce da montaria para pensares numa forma de escapares ao homem que está atrás de ti e não tarda a chegar.

             - Perdão – diz o rato – faço-te mil súplicas de joelhos: atravessa-me. Vou percorrer montes e dunas cantando-te louvores e dizendo que o camelo é o mais sábio dos animais.”

 
Karl Schmit, in “O Elogio da Sabedoria”.
 

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