Maria Velho da Costa nasceu em Lisboa, a 26 de Junho de 1938.
Ficcionista, ensaísta e dramaturga, é licenciada em Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa.
Foi leitora do
Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros do “King´s College”, Universidade
de Londres.
Participou
na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Foi
Adida Cultural em Cabo Verde e Adjunta do Secretário de Estado da Cultura em
1979.
Dirigiu
a revista literária “Loreto 13”.
Colaborou
em diversos argumentos cinematográficos.
Foi Presidente da
Associação Portuguesa de Escritores.
Maria Velho da Costa destaca-se como uma escritora
de espírito renovador no panorama da literatura portuguesa. O seu primeiro romance
“Maina Mendes", publicado em 1969, é um marco de mudança na ficção portuguesa contemporânea.
“Novas Cartas Portuguesas” publicado em 1972, escrito em parceria com Maria Isabel
Barreno e Maria Teresa Horta, foi uma veemente crítica à deplorável condição social,
política e humana da mulher na sociedade portuguesa.
Recebeu
diversos prémios, com destaque para o “Prémio Vida Literária” da APE, que lhe
foi atribuído ontem, dia 2 de Dezembro. O Prémio exalta a sua criatividade, assim
como o seu percurso literário.
“Revolução e Mulheres”:
“Elas são quatro milhões, o
dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas picam
cebolas e descascam batatas. Elas migam sêmeas e restos de comida azeda. Elas
chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças. Elas enchem lancheiras
e tarros e pastas de escola com latas e buchas e fruta embrulhada num pano
limpo. Elas lavam os lençóis e as camisas que hão-de suar-se outra vez. Elas
esfregam o chão de joelhos com escova de piaçaba e sabão amarelo e correm com
os insectos a que não venham adoecer os seus enquanto dormem. Elas brigam nos
mercados e praças por mais barato. Elas contam centavos. Elas costuram e enfiam
malhas em agulhas de pau com as lãs que hão-de manter no corpo o calor da
comida que elas fazem. Elas vêm com um cântaro de água à cinta e um molho de
gravetos na cabeça. Elas limpam as pias e as tinas e as coelheiras e os
currais. Elas acendem o lume. Elas migam hortaliça. Elas desencardem o fundo
dos tachos. Elas passajam meias e calças e camisas e outra vez meias. Elas
areiam o fogão com palha-de-aço. Elas calcorreiam a cidade a pé e à chuva
porque naquele bairro os macacos são caros. Elas correm esbaforidas para não
perder o comboio, o barco. Elas pousam o cesto e abrem a porta com a mão
vermelha. Elas põem a tranca no palheiro. Elas enterram o dedo mínimo na
galinha a ver se tem ovo. Elas acendem o lume. Elas mexem o arroz com um garfo
de zinco. Elas lambem a ponta do fio de linha para virar a camisa. Elas enchem
os pratos. Elas pousam o alguidar na borda da pia para aguentar. Elas arredam a
coberta da cama. Elas abrem-se para um homem cansado. Elas também dormem.”
Belo e verdadeiro! deixo Aplausos...
ResponderEliminarMuito obrigado, Neyde. Cumprimentos.
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