sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

ILSE LOSA

 

Ilse Losa nasceu perto de Hanôver, Alemanha, no dia 20 de Março de 1913. Viveu até 6 de Janeiro de 2003.

De origem judaica, abandonou o seu país em 1930, devido às ameaças da Gestapo de a enviarem para um campo de concentração. Assistiu ao holocausto nazi.

Viajou até Inglaterra, onde contactou escolas infantis, e se interessou pelos problemas das crianças.

Quatro anos depois veio para Portugal e passou a residir na cidade do Porto, onde casou com o arquitecto Arménio Taveira Losa, tendo adquirido a nacionalidade portuguesa.

Em 1943, publicou o seu primeiro livro “O Mundo em que vivi”, onde relata as suas memórias das perseguições aos judeus.

Colaborou em diversos jornais e revistas alemães e portugueses. Trabalhou para a televisão, escrevendo séries infantis.

Está representada em várias antologias de autores portugueses, sendo algumas traduzidas para alemão e publicadas na Alemanha.

 
 
Um excerto do romance “O Mundo em que Vivi”:

 
“O primeiro dia da escola. A saca às costas, caminhei ao lado da minha mãe, cheia de curiosidade e de receios.
         O Sr. Brand, o professor, distribuía sorrisos animadores aos meninos, que o fitavam com desconfiança. A barba grisalha e o colarinho engomado davam lhe um ar de austeridade, mas os olhos alegres protestavam contra tal impressão.
        Começou por nos falar, e doseava serenidade com humor para afugentar os nossos medos.
         De todas as escolas por que passei, a de que verdadeiramente gostei foi a escola primária.
        Quando o Sr. Brand tomou nota do meu nome ninguém se virou para mim com sorrisinhos por soar a judaico, ninguém achou estranho eu responder “israelita” à pergunta do Sr. Brand à minha religião.
         Fora a mãe que me recomendara: “Quando o Sr. Brand te perguntar pela religião, diz-lhe que és israelita. Soa melhor do que judia”. Eu não concordava, porque achava “israelita” uma palavra estranha que não parecia pertencer à minha língua e, por isso, corei de embaraço ao pronunciá-la. 
        E quando o Sr. Brand quis saber a profissão do meu pai respondi “negociante de cavalos”. Coisa natural. Muitos alunos eram filhos de lavradores e conheciam o meu pai. 
         Não me sentia envergonhada daquilo que eu e o meu pai éramos, como aconteceria mais tarde, no liceu, quando a minha mãe me recomendou que às perguntas respondesse, além de “sou israelita”, que o meu pai era “comerciante”.

 
Ilse Losa, in “O Mundo em que Vivi”.


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