Ilse Losa nasceu perto de Hanôver, Alemanha, no dia 20 de Março de 1913. Viveu até
6 de Janeiro de 2003.
De origem
judaica, abandonou o seu país em 1930, devido às ameaças da Gestapo de a enviarem
para um campo de concentração. Assistiu ao holocausto nazi.
Viajou até
Inglaterra, onde contactou escolas infantis, e se interessou pelos problemas
das crianças.
Quatro anos
depois veio para Portugal e passou a residir na cidade do Porto, onde casou com
o arquitecto Arménio Taveira Losa, tendo adquirido a nacionalidade portuguesa.
Em 1943, publicou
o seu primeiro livro “O Mundo em que vivi”, onde relata as suas memórias das
perseguições aos judeus.
Colaborou em diversos
jornais e revistas alemães e portugueses. Trabalhou para a televisão,
escrevendo séries infantis.
Está representada em várias
antologias de autores portugueses, sendo algumas traduzidas para alemão e
publicadas na Alemanha.
Um excerto do romance “O Mundo em que Vivi”:
“O primeiro dia da escola. A saca às
costas, caminhei ao lado da minha mãe, cheia de curiosidade e de receios.
O Sr. Brand, o professor, distribuía
sorrisos animadores aos meninos, que o fitavam com desconfiança. A barba
grisalha e o colarinho engomado davam lhe um ar de austeridade, mas os olhos
alegres protestavam contra tal impressão.
Começou por nos falar, e doseava serenidade
com humor para afugentar os nossos medos.
De todas as escolas por que passei, a de
que verdadeiramente gostei foi a escola primária.
Quando o Sr. Brand tomou nota do meu nome
ninguém se virou para mim com sorrisinhos por soar a judaico, ninguém achou
estranho eu responder “israelita” à pergunta do Sr. Brand à minha religião.
Fora a mãe que me recomendara: “Quando o Sr. Brand te perguntar pela
religião, diz-lhe que és israelita. Soa melhor do que judia”. Eu não
concordava, porque achava “israelita” uma palavra estranha que não parecia
pertencer à minha língua e, por isso, corei de embaraço ao pronunciá-la.
E
quando o Sr. Brand quis saber a profissão do meu pai respondi “negociante de cavalos”. Coisa natural.
Muitos alunos eram filhos de lavradores e conheciam o meu pai.
Não me sentia
envergonhada daquilo que eu e o meu pai éramos, como aconteceria mais tarde, no
liceu, quando a minha mãe me recomendou que às perguntas respondesse, além de “sou israelita”, que o meu pai era “comerciante”.
Ilse Losa,
in “O Mundo em que Vivi”.
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