Alda Lara (Benguela,
Angola, 1930 – Cambambe, Angola,
1962).
Orlando de Albuquerque, poeta e escritor moçambicano, radicado
em Angola, escreveu no prefácio do livro de Poemas de Alda Lara:
“A sua poesia
caracteriza-se por uma intensa angolanidade implícita e, sobretudo, por um
extremo amor e carinho, quase ternura, pelos outros. Ternura de menina-mulher,
que sofria com os sofrimentos alheios, que vibrava com as desgraças da sua
terra […]”.
Testamento
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos,
lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
Alda Lara
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos,
lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
Alda Lara
saravá...no "OXALÁ" na tela onde te pinto ....eu sinto-me .
ResponderEliminarTenho o livro original, 4a edição, onde está tb o citado prefácio, e na página desse poema imortal, aparece a data e local “Lisboa, 1950”. Deduzo q foi qdo ela estava na faculdade de medicina de Lisboa.
ResponderEliminarMorreu com apenas 32 anos, mas quem escreve assim nunca morre!