quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

JORGE DE SENA - Génesis

 
 
 
 
 
 

Jorge de Sena (Lisboa, Portugal, 1919 - Santa Bárbara, Califórnia, EUA, 1978).

Foi poeta, professor universitário, dramaturgo, crítico literário, ensaísta e tradutor.

Viveu seis anos no Brasil onde completou a importante obra poética, Metamorfoses, e escreveu Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena, Sinais de Fogo, entre outros.

Foi catedrático de Teoria da Literatura na “Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis”, em São Paulo.

A sua obra é marcada pela reflexão humanista acerca da liberdade do Homem.

É um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras principais da cultura do século XX.
Postumamente, foram publicadas várias antologias poéticas.



Palavras de Jorge de Sena:

“Esta é a ditosa pátria minha amada. Não. Não é ditosa, porque o não merece. Nem minha amada, porque é só madrasta. Nem pátria minha, porque eu não mereço a pouca sorte de ter nascido nela.”

 
 
                    Génesis

 

De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.

Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.

Por mais justiça...- Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade...Ó transfusão dos povos!

Não há verdade: o mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.

 

Jorge de Sena, in “Coroa da Terra”


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