sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

PRÉMIO CAMÕES – 2006 – José Luandino Vieira

 
 
 
 
 

Luandino Vieira (Vila Nova de Ourém, Portugal, 1935). É cidadão angolano.
Foi uma dos fundadores da União de Escritores Angolanos, em 1975.

Em 2006, um júri constituído por Francisco Noa (Moçambique), José Eduardo Agualusa (Angola), Ivan Junqueira e Evanildo Bechana (Brasil), Paula Mourão e Agustina Bessa-Luís (Portugal) elegeu Luandino Vieira como o vencedor do Prémio Camões 2006.

Este prémio é o mais importante da literatura em língua portuguesa.

O escritor optou por não aceitar o galardão, evocando, para isso, “razões pessoais, intimas”.

Algumas das suas obras: Luuanda, No Antigamente, na Vida, Macandumba, A Cidade e a Infância, O Livro dos Rios.

 

 

Palavras de Luandino Vieira:

 
“Considero que os meus anos de cadeia (preso político no Tarrafal) foram muito bons para mim. Estou a dizer do ponto de vista estritamente individual.”
 
 
 

     Estrada
 
Luanda Dondo vão,
cento e tal quilômetros
mangas e cajus
marcos brancos
meninos nus
 
Branco algodão
crescendo
corpos negros
na cacimba
 
O Lucala corre
confiante
indiferente à ponte que ignora
 
Verdes matas
Sangram vermelhas acácias
imbondeiros festejam
o minuto da flor anual
 
Na estrada
o rebanho alinha
pelo verde
verde capim
 
Adivinhados
caqui lacraus
de capacete giz
 
Meninos
se embalam
em mães velhas
de varizes:
 
Rios azuis
da longa estrada
 
E é fevereiro
sardões ao sol
Cassoalala
 
Eia Mucoso
tão vazio outrora
tão cheio agora
Adivinhados
permanecem
lacraus caqui
capacetes giz
 
Não param as colheitas
 
Que razão seriam
fevereiro
acácias sangrando vermelho
verdes sisais
cantando o parto
da única flor?
 
Não param as colheitas!
 
 
Luandino Vieira (poema escrito em 1963).
                            

 
 

 

 
 

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