Bernardim Ribeiro (Torrão, Alentejo, Portugal, 1482 – Lisboa, Portugal,1552).
Foi
o fundador da poesia bucólica em Portugal.
A sua obra compõe-se de doze composições, insertas no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, quatro éclogas, a sextina Ontem pôs-se o Sol e a novela Menina e Moça.
Os seus temas preferidos estão relacionados
com a infelicidade amorosa.
Ontem
Pôs-se o Sol
Ontem pôs-se o sol, e a noute
cobriu de sombra esta terra.
Agora é já outro dia,
tudo torna, torna o sol;
só foi a minha vontade,
para não tornar c’o tempo!
cobriu de sombra esta terra.
Agora é já outro dia,
tudo torna, torna o sol;
só foi a minha vontade,
para não tornar c’o tempo!
Tôdalas cousas, per tempo,
passam, como dia e noute;
ua só, minha vontade,
não, que a dor comigo a aterra;
nela cuido em quanto há sol,
nela enquanto não há dia.
passam, como dia e noute;
ua só, minha vontade,
não, que a dor comigo a aterra;
nela cuido em quanto há sol,
nela enquanto não há dia.
Mal quero per um só dia
a todo outro dia e tempo,
que a mim pôs-se-me o sol
onde eu só temia a noute;
tenho a mim sôbre a terra,
debaxo minha vontade.
a todo outro dia e tempo,
que a mim pôs-se-me o sol
onde eu só temia a noute;
tenho a mim sôbre a terra,
debaxo minha vontade.
Dentro na minha vontade
não há momento do dia
que não seja tudo terra;
ora ponho a culpa ao tempo,
ora a torno a pôr à noute:
no milhor pon-se-me o sol!
não há momento do dia
que não seja tudo terra;
ora ponho a culpa ao tempo,
ora a torno a pôr à noute:
no milhor pon-se-me o sol!
Primeiro não haverá sol
que eu descanse na vontade.
Pon-se-me ua escura noute
sôbre a lembrança de um dia...
Inda mal porque houve tempo
e porque tudo foi terra.
que eu descanse na vontade.
Pon-se-me ua escura noute
sôbre a lembrança de um dia...
Inda mal porque houve tempo
e porque tudo foi terra.
Haver de ser tudo terra
quanto há debaixo do sol
me descansa, porque o tempo
me vingará da vontade;
se não que antes dêste dia
há-de passar tanta noute!
quanto há debaixo do sol
me descansa, porque o tempo
me vingará da vontade;
se não que antes dêste dia
há-de passar tanta noute!
Bernardim Ribeiro, in “Antologia Poética”
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