quarta-feira, 22 de abril de 2015

REINALDO FERREIRA - Uma casa portuguesa

 
 
 
 
 

Reinaldo Ferreira (Barcelona, Espanha, 1922 – Lourenço Marques, Moçambique, 1959).

A sua poesia enquadra-se na tendência presencista, notando-se também elementos que a ligam ao simbolismo e ao decantismo.

A colectânea dos seus poemas, publicada, postumamente, em 1960, com o título Poemas, mereceu elogios de vários poetas.

 José Régio, escreveu sobre Reinaldo Ferreira: é a revelação de um grande poeta português, uma obra que, mesmo chegando até nós fragmentada, pela sua densidade substancial e a sua beleza formal já entrou como peça de rara qualidade no tesoiro da nossa poesia.”
 
 

Uma casa portuguesa

 

 
Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho sobre a mesa.
Quando à porta humildemente bate alguém,
senta-se à mesa coa gente.
Fica bem essa franqueza, fica bem,
que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente.

 
Quatro paredes caiadas,
um cheirinho a alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!

 
No conforto pobrezinho do meu lar,
há fartura de carinho.
A cortina da janela e o luar,
mais o sol que gosta dela...
Basta pouco, poucochinho pra alegrar
uma existéncia singela...
É só amor, pão e vinho
e um caldo verde, verdinho
a fumegar na tijela.

 
Quatro paredes caiadas,
um cheirinho a alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!
 
 

Reinaldo Ferreira

 

 

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