Gil
Vicente (Portugal,
1466-1536). Não existe informação exacta sobre os locais onde nasceu e morreu.
Foi
dramaturgo, poeta, actor, encenador, músico e ourives, tendo sido um dos
impulsionadores da cultura renascentista em Portugal.
A
sua primeira peça, escrita em castelhano, Monólogo
do Vaqueiro, data de 1502.
Escreveu
44 peças, umas em português, outras em castelhano, outras bilingues, entre
autos, tragicomédias, farsas, comédias e moralidades.
Entre os
autos religiosos, são mais famosos os que perfazem a trilogia das Barcas (Barca do Inferno, Barca do Purgatório, Barca
da Glória), Auto da Alma, Auto de Mofina Mendes, Auto da Índia, Auto da Feira.
Luís
Vicente, seu filho, editou em 1562, cinco volumes com o título: Compilaçam de todalas obras de Gil Vicente.
Marcelino
Menéndez y Pelayo, (1856-1912) consagrado
historiador e crítico literário espanhol escreveu sobre Gil Vicente: “é a figura mais importante dos primitivos
dramaturgos peninsulares, não havendo quem o excedesse na Europa do seu tempo.”
Pois
Casei Má Hora
Pois
casei má hora, e nela,
e com tal marido, prima...
Comprarei cá üa gamela,
par'ò ter debaixo dela,
e um grão penedo em cima.
e com tal marido, prima...
Comprarei cá üa gamela,
par'ò ter debaixo dela,
e um grão penedo em cima.
Porque vai-se-me às figueiras,
e come verde e maduro;
e quantas uvas penduro
jeita nas gorgomeleiras:
parece negro monturo.
e come verde e maduro;
e quantas uvas penduro
jeita nas gorgomeleiras:
parece negro monturo.
Vai-se-me
às ameixieiras,
antes que sejam maduras.
Ele quebra as cereijeiras,
ele vendima as parreiras,
e não sei que faz das uvas.
antes que sejam maduras.
Ele quebra as cereijeiras,
ele vendima as parreiras,
e não sei que faz das uvas.
Ele não vai à lavrada,
ele todo o dia come,
ele toda a noite dorme,
ele não faz nunca nada,
e sempre me diz que há fome!
ele todo o dia come,
ele toda a noite dorme,
ele não faz nunca nada,
e sempre me diz que há fome!
Jesu!
Jesu! Posso-te dizer,
e jurar e tresjurar,
e provar e reprovar,
e andar e revolver,
que é milhor pera beber,
que não pera maridar.
O demo que o fez marido!
e jurar e tresjurar,
e provar e reprovar,
e andar e revolver,
que é milhor pera beber,
que não pera maridar.
O demo que o fez marido!
Que assi seco como é
beberá a torre da Sé:
então arma um arruído
assi debaixo do pé!...
Gil Vicente, in “Auto da Feira”
beberá a torre da Sé:
então arma um arruído
assi debaixo do pé!...
Gil Vicente, in “Auto da Feira”
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