sexta-feira, 24 de abril de 2015

CHARLES SIMIC – Laranja cor de Sangue

 
 
 
 
 
 

Charles Simic (1938) poeta sérvio-americano.
 
Palavras de Charles Simic:
“Poesia é um órfão do silêncio. As palavras nunca são completamente iguais à experiência atrás delas.”


                Laranja cor de Sangue
 
 
Está tão escuro que o fim do mundo pode estar próximo.
Convenço-me que vai chover.
Os pássaros no jardim estão silenciosos.
Nada é o que parece,
Nem nós mesmos.
 
Na nossa rua há uma árvore tão grande
Que podemos esconder-nos todos nas suas folhas.
Nem precisaremos de roupas.
Sinto-me tão velho como uma barata, disseste.
Imagino-me passageiro de um navio-fantasma.
 
Agora nem um suspiro lá fora.
Se alguém abandonou uma criança no nosso patamar,
Deve estar a dormir.
Tudo está a vacilar na borda de tudo
Com um sorriso polido.
 
É porque há coisas neste mundo
Sem qualquer solução, disseste.
Nesse instante ouvi a laranja cor de sangue
Rebolar pela mesa e com um baque
Cair no chão rachada ao meio.
 
Charles Simic, in “Previsão de Tempo para Utopia e Arredores”.
Tradução: José Alberto Oliveira
 


 
 

 

 
 

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