Eugénio
de Andrade (Póvoa da Atalaia, Portugal, 1923 – Porto, Portugal,
2005) foi poeta, escritor e tradutor.
Não integrou
nenhum dos movimentos literários seus contemporâneos, porém, com espírito
solidário, colaborou em diversas revistas a eles ligadas.
Em 1942 publica o seu primeiro
livro de poesia, Adolescente.
Publicou mais de vinte
livros de poesia, além de obras em prosa, antologias, livros para crianças e
traduções para português de grandes poetas estrangeiros.
Na sua poesia
existem três temas que são transversais na sua obra: o êxtase, a melancolia e o
envelhecimento.
Palavras
de Eugénio de Andrade:
"Caridade
é uma palavra de flancos frios e águas estanques. Conduz sem grandes desvios ao
mundo pantanoso e pervertido da repressão, onde a consciência que se diz
virtuosa mais não faz que servi-lo, desinteressada como está em que a
potencialidade humana se afirme em todo o seu esplendor."
Um Amigo é às vezes o Deserto
Um amigo é às vezes o deserto,
outras a água.
Desprende-te do ínfimo rumor
de agosto; nem sempre
outras a água.
Desprende-te do ínfimo rumor
de agosto; nem sempre
um corpo é o lugar da furtiva
luz despida, de carregados
limoeiros de pássaros
e o verão nos cabelos;
luz despida, de carregados
limoeiros de pássaros
e o verão nos cabelos;
é na escura folhagem do sono
que brilha
a pele molhada,
a difícil floração da língua.
O real é a palavra.
que brilha
a pele molhada,
a difícil floração da língua.
O real é a palavra.
Eugénio de Andrade, in “Branco no Branco”
Imagem: retrato de Eugénio de Andrade, por Carlos Botelho.
Sem comentários:
Enviar um comentário