quarta-feira, 13 de setembro de 2017

ANATOLE FRANCE - A morte de uma libélula

 


ANATOLE FRANCE
(Paris, França, 1844 - Saint-Cyr-sur-Loire, 1924)

Escritor e poeta

Publicou o seu primeiro livro, Alfred de Vigny, em 1868. A sua produção literária é vasta e fecunda, especialmente entre 1876 e 1890, período durante o qual desempenhou funções como assistente na biblioteca do Senado e publicou o seu primeiro volume de poemas, instigado por Leconte de Lisle, Les Poémes Dorés (1873).
 
De facto, apesar de ser mais conhecido enquanto romancista, experimentou quase todos os géneros literários. Em 1881, e por Le Crime de Sylvestre Bonnard, recebeu o prémio da Académie Française, da qual se tornaria membro em 1896. Em 1890, já era France crítico literário no jornal Le Temps, surge Thaïs, a «história de uma pecadora salva por um eremita condenado», que conheceu um sucesso singular e a partir da qual, quatro anos mais tarde, Massenet compôs a ópera com o mesmo nome.
 
Nos últimos anos de vida, interessou-se cada vez mais pelas questões políticas e sociais, unindo a sua voz, em protesto, à de Émile Zola contra o veredicto do caso Dreyfus (1896), por exemplo, e escrevendo os quatro volumes (1897-1901) da Histoire Contemporaine, um retrato da Belle Époque.
 
Em 1921, apenas três anos antes de morrer, recebe o Prémio Nobel da Literatura, cujo discurso de apresentação o exortava nestes termos: «Hoje, quando, neste nosso velho país germânico, concedemos o prémio internacional dos poetas a este mestre gaulês, seguidor fiel da verdade e da beleza, herdeiro do humanismo, da linhagem de Rabelais, Montaigne, Voltaire, Renan, lembramo-nos das palavras que ele um dia disse aos pés da estátua de Renan – a sua profissão de fé fica assim completa: ‘De forma lenta mas segura, a humanidade realiza os sonhos dos sábios.’»

 
in “Antígona”

***

Palavras de Anatole France
“O dinheiro é um dos fins para se viver feliz: os homens transformaram-no no único fim.”

***
A MORTE DE UMA LIBÉLULA

Certa vez, vi essas esbeltas mocinhas,
Como as chamamos, orgulho das águas calmas,
Deliciando-se no ar puro do brilho de suas asas
Evadirem-se e se  procurarem por sobre os caniços.
 
Uma criança, o olho afogueado, veio até ao vaso,
E, através dos íris uma rede verde, estender
Sobre uma libélula e a rede de gaze
Impedir do inseto surpreendido o voo.

Foi, por um alfinete espetado, o fino corpinho verde;
Porém, a frágil criatura ferida, com um enorme esforço,
Alento recobrou e, alçando voo, estridente singrou,
Em direção aos juncos, levando o alfinete e a morte.

Sobre uma cortiça infame, não lhe convinha,
Aos olhos dos escolares, a beleza exibir:
Abriu, então, pra morrer, as quatro asas de chama
E, nos juncos familiares, o corpo secou.


Tradução: Cunha e Silva Filho

Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...