CASTRO ALVES
(Bahia,
Brasil, 1847 - 1871)
Poeta
A CRUZ DA ESTRADA
Caminheiro
que passas pela estrada,
Seguindo
pelo rumo do sertão,
Quando
vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na
solidão.
Que
vale o ramo do alecrim cheiroso
Que
lhe atiras nos braços ao passar?
Vais
espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão
pousar.
É
de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe
a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o
dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as
selvas lhe compôs.
Não
precisa de ti. O gaturamo
Geme,
por ele, à tarde, no sertão.
E
a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a
solidão.
Dentre os braços da cruz, a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.
Quando, à noite, o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.
Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.
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