ELEGIA ENTRE ÁGUA E ÁGUA
Sempre
foste um rio, nada mais que rio:
um
rumor de sangue que canta e canta,
entre
lábios e lábios, de mágoa em mágoa,
a
nudez completa que te queima a garganta.
Um
rio, Aleixandre, um rio de guitarras;
de guitarras não - de tesouras ou de espadas,
de sumo de limão, de mãos que se procuram
trémulas, feridas, entre pálpebras cerradas.
de guitarras não - de tesouras ou de espadas,
de sumo de limão, de mãos que se procuram
trémulas, feridas, entre pálpebras cerradas.
Assim
te vejo: o rosto encostado à solidão
e as veias abertas gritando pelo mar,
Ó clara luz de Espanha entre agonia e morte,
ó flor masculina de cal e de luar!
e as veias abertas gritando pelo mar,
Ó clara luz de Espanha entre agonia e morte,
ó flor masculina de cal e de luar!
Nem
eu quero outra luz por mais azul que seja.
Não quero outra canção de neve ou de navio,
nem outro coração de peixe ou de cereja.
Quero apenas essa voz, afogar-me nesse rio.
Não quero outra canção de neve ou de navio,
nem outro coração de peixe ou de cereja.
Quero apenas essa voz, afogar-me nesse rio.
EUGÉNIO DE ANDRADE – poeta (Fundão, Portugal, 1923 – Porto, 2005).
VICENTE ALEIXANDRE
– poeta (Sevilha, Espanha, 1898 – Madrid, 1984).
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