O ARTISTA PERANTE O ESTADO
Em
Abril de 1947, um tribunal americano declara «desnazificado» o compositor e
director de orquestra alemão Wilhelm Furtwängler, requisito imprescindível para
que lhe seja permitido iniciar a carreira.
Idêntico
processo tiveram de seguir numerosas figuras da cena musical alemã, como o
também director Herbert von Karajan, «desnazificado» e, 1945, o eminente
compositor Richard Strauss, que o foi em 1948.
O caso de Furtwängler, no
entanto, faz duvidar da legitimidade de processos desta índole. Embora seja
certo que renunciou ao exílio e continuou a desempenhar as suas funções
artísticas durante todo o conflito bélico, a sua atitude foi sempre claramente
antinazi (negou-se sempre a efectuar a saudação obrigatória, de mão estendida,
em qualquer dos seus aparecimentos públicos) e ajudou mesmo a fugir do país numerosos artistas e intelectuais, com grave
risco para a sua própria segurança pessoal.
Poucas
vezes na história se deu um caso tão indiscutível de um artista que nas
circunstâncias do seu tempo tenha sido colocado perante o difícil dilema de apoiar
a sua arte e a sua pátria contra as instituições que controlam uma e governam a
outra.
***
Imagem: ilustração da capa do catálogo da exposição de
Música degenerada de 1938.
O catálogo da exposição de
Música degenerada deixa clara a questão. Elaborada pelo diretor do Teatro
Nacional de Weimar, Hans Severus Ziegler, o catálogo é um verdadeiro ataque
grosseiro e aleatório a algumas tendências e indivíduos, tornando-se um
documento revelador do vazio intelectual e do discurso ensandecido e violento
dos nazistas. A própria capa da exposição revela o tamanho da brutalidade. Nela
podemos observar um saxofonista negro portando na lapela uma estrela de Davi,
simbolizando em uma só imagem algumas das principais vítimas dos ataques
nazistas: o judeu, o negro e, enquanto música, o jazz.
in ”Música e Sociedade” (excerto)
Sem comentários:
Enviar um comentário