EÇA
DE QUEIROZ
(Portugal,
1845 - França, 1900)
Escritor
***
A QUINTA
De madrugada os galos cantam, a quinta acorda, os cães
de fila são acorrentados, a moça vai mungir as vacas, o pegureiro atira o seu cajado
ao ombro, a fila dos jornaleiros mete-se
às terras – e o trabalho principia, esse trabalho que em Portugal parece a mais
segura das alegrias e a festa sempre incansável, porque é todo feito a cantar.
As
vozes vêm, altas e desgarradas , no fino
silêncio,
de além, dentre os trigos, ou do campo em sacha, onde alvejam as camisas de linho
cru, e os lenços de longas franjas vermelhejam mais que papoulas. E não há, neste
labor, nem dureza nem arranque. Todo ele é feito com a mansidão com que o pão amadurece ao sol. O arado, mais acaricia
do que rasga a gleba. O centeio cai por si, amorosamente, no seio atraente da foice.
A água sobe onde o torrão tem sede, e corre para lá, gralhando e refulgindo.
in “Correspondência de Fradique Mendes”
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