RENATA PALLOTTINI
(São Paulo, Brasil,
1931)
Dramaturga, poetisa, tradutora
***
Cursou Direito, Filosofia e Dramaturgia. Escreveu e
produziu trabalhos para teatro e televisão, entre os quais Vila Sésamo, Malu Mulher
e Joana. Publicou livros de poesia,
prosa, teatro e ensaios. Coordenou e participou da Anthologie de la poésie brésilienne, publicada em Paris, em 1998, e
que reuniu quatro séculos de literatura brasileira.
in “Blog de Renata Pallottini”
(excertos)
***
O GRITO
Se
ao menos esta dor servisse
se
ela batesse nas paredes
abrisse
portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos
se
ao menos esta dor se visse
se
ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse
da janela fizesse barulho
morresse
se
a dor fosse um pedaço de pão duro
que
a gente pudesse engolir com força
depois
cuspir a saliva fora
sujar
a rua os carros o espaço o outro
esse
outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer
se
a dor fosse só a carne do dedo
que
se esfrega na parede de pedra
para
doer doer doer visível
doer
penalizante
doer com lágrimas
se ao menos esta dor sangrasse
in “A Faca e a Pedra”
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