FAGUNDES VARELA
(São João Marcos, Brasil, 1841 — Niterói, 1875)
Poeta
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Vivendo na última fase do
Romantismo, a sua poesia revela um hábil artista do verso. Em Arquétipo, um dos primeiros poemas, faz
profissão de fé de tédio romântico, em versos brancos. Embora o preponderante
em sua poesia seja a angústia e o sofrimento, evidenciam-se outros aspectos
importantes: o patriótico, em O
estandarte auriverde (1863) e Vozes
da América (1864); o amoroso, na fase lírica, dos poemas ligados à
Natureza, e, por fim, o místico e religioso. O poeta não deixa de lado, também,
os problemas sociais, como o Abolicionismo.
in “Academia Brasileira de Letras” (excerto)
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A FLOR DO MARACUJÁ
Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!
Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas do sereno
Nas folhas de gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!
Pelas tranças da mãe-d'água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá!
Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!
Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensanguentada
Da flor do maracujá!
Por tudo o que o céu revela!
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh'alma
De tua alma escrava está!...
Guarda contigo esse emblema
Da flor do maracujá!
Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em - a -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!
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