sábado, 22 de dezembro de 2018

MARIA ISABEL BARRENO - Célia e Celina



MARIA ISABEL BARRENO
(Lisboa, Portugal, 1939 – 2016)
Escritora, ensaísta, artista plástica
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Co-autora, em 1971, de Novas Cartas Portuguesas, esteve implicada no chamado Processo das Três Marias, tendo sido um dos nomes de vanguarda do movimento feminista português.

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Célia e Celina

(…) Era uma vez uma menina. Vivia com os pais, numa bela casa, junto a uma grande cidade. A casa ficava numa colina, e daí via-se a cidade toda. Atrás da colina começava uma enorme floresta. A menina ia passear à cidade, ia ao mercado, ia à escola. E passeava também na floresta. Gostava muito de andar sozinha no meio das árvores das flores e dos animais. Conversava com eles.

Um dia, viu uma fada. A fada não lhe disse nada, olhou-a e sorriu. A menina também não disse nada, não ficou admirada nem fez perguntas. Ela sabia que existiam fadas, embora ninguém falasse nisso. Naquela terra as pessoas não falavam nas coisas mais importantes, porque essas as coisas que existiam mesmo, e falando nessas coisas eles podiam sumir: ficariam escondidas debaixo das palavras, esquecidas.

A menina ficou olhando a fada, e ficou feliz, completamente feliz. Sentiu que a visão da fada seria sempre um sol na sua vida. O pai da menina era um comerciante abastado, e viajava muito por causa dos seus negócios. Não era muito rico, mas ganhava bastante dinheiro, e todos viviam bem naquela casa.

Um dia em que o pai da menina deveria voltar de uma das suas viagens, não voltou. A mãe e a menina esperaram-no toda a noite e ele não apareceu. No dia seguinte soube-se na cidade que andava um bando de salteadores atacando quem passava na estrada – na estrada por onde deveria ter regressado o pai da menina. (…)



in “Célia e Celina”  



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