quinta-feira, 21 de novembro de 2013

PEDRO HOMEM DE MELLO

 
 
 

Pedro Homem de Mello nasceu no Porto no dia 6 de Setembro de 1904. Viveu até 5 de Março de 1984.

Foi poeta, professor, jornalista e um estudioso do folclore português.

Formou-se em Direito na Universidade de Lisboa.

Colaborou nas revistas literárias “Presença” e “Altura”.

A sua obra poética está compilada no volume “Poesias Escolhidas”. Escreveu, também, “A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português” e “Danças de Portugal”.

Durante vários anos apresentou na RTP um programa de folclore, de sua autoria.

Amália Rodrigues seria a imortal intérprete dos seus famosos poemas: “Povo que Lavas no Rio” e “Havemos de ir a Viana”.

Recebeu os seguintes galardões: “Prémio Antero de Quental”, “Prémio Ocidente” e o “Prémio Nacional de Poesia”.


Povo que lavas no rio



Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!
 
Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!


Fui ter à mesa redonda,

Bebendo em malga que esconda
O beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida, não!


Procissões de praia e monte,

Areais, píncaros, passos

Atrás dos quais os meus vão!

Que é dos cântaros da fonte?

Guardo o jeito desses braços...

Mas a tua vida, não!


 
Aromas de urze e de lama!

Dormi com eles na cama...

Tive a mesma condição.

Bruxas e lobas, estrelas!

Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!


Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas

Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...

Vi certa curva em teu seio...
Mas a tua vida, não!
 

Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão..
Povo! Povo! eu te pertenço.

Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida, não!
 

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!
 
 
Pedro Homem de Mello
 
 
 
 
 
 
 

 

 

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