Pedro Homem de Mello nasceu no Porto
no dia 6 de Setembro de 1904. Viveu até 5 de Março de 1984.
Foi poeta, professor, jornalista e um
estudioso do folclore português.
Formou-se em Direito na Universidade
de Lisboa.
Colaborou nas revistas literárias
“Presença” e “Altura”.
A sua obra poética está compilada no
volume “Poesias Escolhidas”. Escreveu, também, “A Poesia na Dança e nos
Cantares do Povo Português” e “Danças de Portugal”.
Durante vários anos apresentou na RTP
um programa de folclore, de sua autoria.
Amália Rodrigues seria a imortal intérprete
dos seus famosos poemas: “Povo que Lavas no Rio” e “Havemos de ir a Viana”.
Recebeu os seguintes galardões:
“Prémio Antero de Quental”, “Prémio Ocidente” e o “Prémio Nacional de Poesia”.
Povo que lavas no rio
Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!
Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!
Fui ter à mesa redonda,
Bebendo em malga que esconda
O beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida, não!
Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!
Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!
Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seio...
Mas a tua vida, não!Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão..
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida, não!
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!
Pedro Homem de Mello
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