terça-feira, 26 de novembro de 2013

RAÚL BRANDÃO

 

Raúl Brandão nasceu a 12 de Março de 1867, na Foz do Douro. Viveu até 5 de Dezembro de 1930.

Iniciou-se como escritor em 1890, editando a colectânea de contos naturalistas “Impressões e Paisagens”.

Foi um dos mais entusiastas renovadores do movimento literário. Dirigiu a “Revista de Hoje” em 1895, com Júlio Brandão e D. João de Castro. Teve uma actividade jornalística de grande sucesso.

Participou no grupo “Os Insubmissos” e coordenou a revista com o mesmo nome.

Escreveu várias peças, das quais se destacam: “Noite de Natal” em parceria com Júlio Brandão, “O Doido e a Morte”, “O Rei Imaginário”, “O Gebo e a Sombra”. Esta última peça foi adaptada a filme por Manoel de Oliveira, em Paris. É uma tragédia que acusa as desigualdades sociais e a injustiça. A luta dos pobres contra o egoísmo da burguesia.

Em 1917 publicou “Húmus”, considerada uma obra-prima da literatura portuguesa, dedicada a Columbano, do qual era amigo, e que lhe pintara dois retratos.

Raúl Brandão idealizou um projecto literário para a publicação de quatro livros com o título genérico “A História Humilde do Povo Português”. O primeiro volume foi denominado “Os Pescadores”, a seguir “Os Lavradores”, “Os Pastores” e “Os Operários”. Somente um foi publicado.

A obra “As Ilhas Desconhecidas”, surge a pós uma viagem do escritor aos Açores.

Raúl Brandão é considerado o grande modernista português na ficção.

Um excerto do livro "HÚMUS":
 
"Desde que se cumpram certas cerimónias ou se respeitem certas fórmulas, consegue-se ser ladrão e escrupulosamente honesto - tudo ao mesmo tempo.
A honradez deste homem assenta sobre uma primitiva infâmia. O interesse e a religião, a ganância e o escrúpulo, a honra e o interesse, podem viver na mesma casa, separados por tabiques.
Agora é a vez da honra - agora é a vez do dinheiro - agora é a vez da religião. Tudo se acomoda, outras coisas heterogéneas se acomodam ainda. Com um bocado de jeito arranja-se-lhes sempre lugar nas almas bem formadas”.

           Nenhum de nós sabe o que existe e o que não existe. Vivemos de palavras. Vamos até à cova com palavras. Submetem-nos, subjugam-nos. Pesam toneladas, têm a espessura de montanhas. São as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem. (...)
 (...) Existe uma certa grandeza em repetir todos os dias a mesma coisa. O homem só vive de detalhes e as manias têm uma força enorme: são elas que nos sustentam.

Estamos enterrados em convenções até ao pescoço: usamos as mesmas palavras, fazemos os mesmos gestos. A poeira entranhada sufoca-nos. Pega-se. Adere. Há dias em que não distingo estes seres da minha própria alma; há dias em que através das máscaras vejo outras fisionomias, e, sob a impassibilidade, dor; há dias em que o céu e o inferno esperam e desesperam. Pressinto uma vida oculta, a questão é fazê-la vir à supuração”.

 

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