MANUELA PORTO
(Lisboa, Portugal, 1908 - 1950)
Declamadora,
encenadora, escritora, jornalista
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VIRGINIA WOOLF
(Reino Unido, 1882 -1941)
Escritora,
ensaísta, editora
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Homenagem de Manuela Porto a Virginia Woolf
No ano de 1882, exactamente quando a rainha Vitória se encontrava em pleno apogeu, bons vinte anos antes que as sufragistas inglesas se lembrassem de fazer distúrbios pelas ruas de Londres, lutando por uma coisa hoje considerada banal em Inglaterra – o voto feminino – nascia no número três de «Hyde Park Gate», Virginia Woolf, uma das mais límpidas e mais singulares do nosso tempo.
Na verdade, sem aquela
lúcida inteligência que de muito cedo a forçou a desejar entender, sem aquela
espécie de inconformismo que essa compreensão trazia fatalmente consigo, sem
aquele toque de genialidade que obrigou a seu espírito a ir na frente dos mais,
Virgínia Woolf teria sido uma mulher feliz.
Assim, a sua existência,
aparentemente serena, foi uma luta árdua que terminou com um suicídio em 1941.
A vida inteira Virginia
Woolf lutou. Lutou pelos chamados direitos femininos, lutou para obter dos
outros um pouco de compreensão para pontos de vista que lhe fossem menos
familiares, lutou consigo mesma para assenhorear-se completamente daqueles
meios de expressão que lhe eram próprios e para conseguir provar que a
«verdadeira matéria do romance é qualquer coisa de muito diferente daquilo que
uma convenção previamente estabelecida nos habituou a considerar como tal.
Depois da morte dos pais,
por alturas do começo do século, Virgínia vai habitar uma pequena casa que em
breve se torna o quartel-general de um grupo literário e renovador, com grande
repercussão nas letras inglesas, conhecido pelo nome de «o grupo de
Bloomsbury».
É indispensável ler com
atenção os dois volumes de The Common
Reader e muito principalmente ler bem A
Room of One´s Own para se formar no nosso espírito uma noção concreta de
qual foi o segredo da escritora,
aquele segredo que, na opinião de
Katherine Mansfield, o artista nunca deve proferir mas que se encontra presente
em toda a sua obra tal com um Anjo da Guarda com uma espada de chamas na mão.
No caso de Virginia Woolf
esse segredo vale a pena ser decifrado, concretizado, pelo leitor, pois é
composto de amor à Vida, de
compreensão dos seres, de fé arreigada nas criaturas e de respeito por essa
espécie de halo luminoso.
Creio que uma das grandes
lutas da escritora foi exactamente conseguir que o halo luminoso, o invólucro
translúcido – símbolo da vida – envolvesse a suas personagens como ela
afirmava que envolve as criaturas reais. Foi essa uma das suas lutas mais duras
e talvez o seu maior triunfo.
in “Mundo Literário” –
1946 (excertos)
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