quinta-feira, 22 de março de 2018

HOMENAGEM DE MANUELA PORTO A VIRGINIA WOOLF


MANUELA PORTO
(Lisboa, Portugal, 1908 - 1950)
Declamadora, encenadora, escritora, jornalista

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VIRGINIA WOOLF
 (Reino Unido, 1882 -1941)
Escritora, ensaísta, editora 


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Homenagem de Manuela Porto a Virginia Woolf

No ano de 1882, exactamente quando a rainha Vitória se encontrava em pleno apogeu, bons vinte anos antes que as sufragistas inglesas se lembrassem de fazer distúrbios pelas ruas de Londres, lutando por uma coisa hoje considerada banal em Inglaterra – o voto feminino – nascia no número três de «Hyde Park Gate», Virginia Woolf, uma das mais límpidas e mais singulares do nosso tempo.

Na verdade, sem aquela lúcida inteligência que de muito cedo a forçou a desejar entender, sem aquela espécie de inconformismo que essa compreensão trazia fatalmente consigo, sem aquele toque de genialidade que obrigou a seu espírito a ir na frente dos mais, Virgínia Woolf teria sido uma mulher feliz.

Assim, a sua existência, aparentemente serena, foi uma luta árdua que terminou com um suicídio em 1941.

A vida inteira Virginia Woolf lutou. Lutou pelos chamados direitos femininos, lutou para obter dos outros um pouco de compreensão para pontos de vista que lhe fossem menos familiares, lutou consigo mesma para assenhorear-se completamente daqueles meios de expressão que lhe eram próprios e para conseguir provar que a «verdadeira matéria do romance é qualquer coisa de muito diferente daquilo que uma convenção previamente estabelecida nos habituou a considerar como tal.

Depois da morte dos pais, por alturas do começo do século, Virgínia vai habitar uma pequena casa que em breve se torna o quartel-general de um grupo literário e renovador, com grande repercussão nas letras inglesas, conhecido pelo nome de «o grupo de Bloomsbury».

É indispensável ler com atenção os dois volumes de The Common Reader e muito principalmente ler bem A Room of One´s Own para se formar no nosso espírito uma noção concreta de qual foi o segredo da escritora, aquele segredo que, na opinião de Katherine Mansfield, o artista nunca deve proferir mas que se encontra presente em toda a sua obra tal com um Anjo da Guarda com uma espada de chamas na mão.

No caso de Virginia Woolf esse segredo vale a pena ser decifrado, concretizado, pelo leitor, pois é composto de amor à Vida, de compreensão dos seres, de fé arreigada nas criaturas e de respeito por essa espécie de halo luminoso.

Creio que uma das grandes lutas da escritora foi exactamente conseguir que o halo luminoso, o invólucro translúcido – símbolo da vida – envolvesse a suas personagens como ela afirmava que envolve as criaturas reais. Foi essa uma das suas lutas mais duras e talvez o seu maior triunfo.



in “Mundo Literário” – 1946 (excertos)





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