CESARE PAVESE
(Itália, 1908 - 1950)
Poeta,
escritor
***
Palavras de Cesare Pavese
“Cuidado
com aqueles que nunca se irritam.”
***
Mania
da Solidão
Como
um jantar frugal junto à clara janela,
Na
sala já está escuro mas ainda se vê o céu.
Se
saísse, as ruas tranquilas deixar-me-iam
ao
fim de pouco tempo em pleno campo.
Como
e observo o céu — quem sabe quantas mulheres
estão
a comer a esta hora — o meu corpo está tranquilo;
o trabalho atordoa o meu corpo e também as mulheres.
Lá
fora, depois do jantar, as estrelas virão tocar
a
terra na ancha planura. As estrelas são vivas,
mas
não valem estas cerejas que como sozinho.
Vejo
o céu, mas sei que entre os tectos de ferrugem
brilha
já alguma luz e que, por baixo, há ruídos.
Um
grande golo e o meu corpo saboreia a vida
das
árvores e dos rios e sente-se desprendido de tudo.
Basta
um pouco de silêncio e as coisas imobilizam-se
no seu verdadeiro sítio, como o meu corpo imóvel.
Cada
coisa está isolada ante os meus sentidos,
que
a aceita impassível: um cicio de silêncio.
Cada
coisa na escuridão posso sabê-la,
como
sei que o meu sangue circula nas veias.
A
planura é água que escorre entre a erva,
um
jantar de todas as coisas. Cada planta e cada pedra
vivem
imóveis. Escuto os alimentos e eles alimentam-me as veias
com todas as coisas que vivem nesta planura.
A
noite importa pouco. O rectângulo de céu
sussurra-me
todos os fragores e uma estrela miúda
debate-se
no vazio, longe dos alimentos,
das
casas, distinta. Não se basta a si mesma
e
precisa de muitas companheiras. Aqui no escuro, sozinho,
o meu corpo está tranquilo e sente-se soberano.
Tradução: Carlos Leite
Sem comentários:
Enviar um comentário