JOÃO VILLARET
(Lisboa, Portugal, 1913 - 1961)
Actor,
encenador, declamador
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ANTÓNIO BOTTO
(Abrantes, Portugal, 1897 - Rio de Janeiro, Brasil,
1959)
Poeta, dramaturgo
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FERNANDO PESSOA
(Lisboa, Portugal, 1888 -1935)
Poeta,
filósofo, dramaturgo, publicitário
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João
Villaret, António Botto e Fernando Pessoa
JOÃO VILLARET:
“Eu era um actor havia
muito pouco tempo – tinha 3 anos de teatro – e António Botto era muito meu
amigo. Um dia disse-me: Ó João, tu queres conhecer o Fernando Pessoa?
Eu devo confessar
sinceramente que sabia muito bem da existência de Fernando Pessoa e do que ele
representava, mas, pela minha mocidade nessa altura não me dava bem conta da
pessoa que ia conhecer nem da importância que isso hoje teria para mim. E fui.
António Botto veio-me buscar à saída do ensaio – era inverno, chovia – viemos
pela Rua do Ouro abaixo, voltámos depois à arcada do Terreiro do Paço e ele
levou-me ao Café Martinho. Era no Café Martinho que se encontrava Fernando
Pessoa. E fui-lhe apresentado.
Não me posso esquecer nunca da visão dele. Um homem meio alto, talvez magrinho, não sei se vestido de cinzento-escuro se de preto, mas a impressão que me dava é que era de preto, mas que a cara dele era uma luz branca. Um corpo todo negro e um chapéu todo negro, havia uma tal intensidade de luz e de expressão na sua cara, nos seus olhos, nos seus óculos, que era uma coisa fascinante.
Fernando Pessoa nunca
falou de si. Falou dos versos do Botto, falou dos outros mas não houve uma
referência nunca a si próprio. Passou o encantamento, deviam ser umas 8 horas,
saímos os três e fomos andando pela Rua do Arsenal. Então, António Botto,
volta-se para Fernando Pessoa, ao pé do Largo do Corpo Santo, mesmo em frente
da igreja e diz-lhe assim: Ó Pessoa, você não se importa de dizer a sua
“Tocadora de harpa”?
Devo dizer que António
Botto tinha uma verdadeira loucura por esse poema de Fernando Pessoa. Agora é
que eu sei o que devo à vida por esse momento. Dum lado António Botto, eu no
meio e do outro lado Fernando Pessoa, e diante da igreja do Corpo Santo, numa tarde
murrinhenta ao Cesário Verde. Ao lusco-fusco de uma noite de inverno, ouvi Pessoa
dizer a “Tocadora de harpa”.
in
“João Villaret” – Sua Vida… Sua Arte…
Autor: Mário Baptista Pereira
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