quarta-feira, 15 de agosto de 2018

ALFREDO BROCHADO - Senhora, porque me Deixas?



ALFREDO BROCHADO
(Amarante, Portugal, 1897 – Lisboa, 1949)
Poeta

***

Escreveu um livro, apenas, O Sangue dos Heróis (1921). O segundo, Bosque Sagrado (1949), editado postumamente, foi feito de versos recolhidos pela mão amiga que os reuniu como num ramo perfumado, das páginas literárias de jornais e revistas, preparado por Teixeira de Pascoaes e com notícia crítica de Manuel Mendes. Nele se revela o poeta das névoas e das finas luzes do entardecer. Os versos que nos deixou, quanto mais simples mais belos.


in “Dicionário da Literatura Portuguesa”

***

Senhora, porque me Deixas?

Senhora, porque me deixas,
Quando eu te não deixei?
Se me deixas, minhas queixas
A quem é que eu as farei?

Senhora do meu deserto,
Com alegria, ou tristeza,
Mostra o caminho mais certo
À minha grande incerteza.

Que a tua boca me diga
Segredos, intimidades.
Que a tua voz seja amiga
De quem não tem amizades.

Porque me deixas, senhora,
Depois de ver-te a meu lado?
Em vez disso melhor fora
Nunca te haver encontrado.

Senhora porque me deixas
Com o teu perfil esguio?
Se me deixas, minhas queixas
A quem é que eu as confio?






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