sábado, 11 de agosto de 2018

HANNAH ARENDT - O Sistema Totalitário



HANNAH ARENDT
(Alemanha, 1906 – Estados Unidos, 1975)
Filósofa

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O primeiro grande texto de Hannah Arendt sobre política é um grito de denúncia, denso e incisivo, do fenómeno totalitário. 

A obra O Sistema Totalitário é publicada em 1951, ano em que Arendt passa de apátrida (como judia foi-lhe retirada a nacionalidade alemã pelo regime de Hitler) a cidadã norte-americana. 

Decorreram dezoito anos após a fuga de Arendt da Alemanha nazi para França, onze depois do breve internamento no campo de concentração francês de Gurs e dez desde a saída de França até Lisboa de onde, com o marido, Heinrich Blücher, tomou o barco para Nova Iorque, integrando o numeroso grupo de exilados alemães que se constituía durante esses anos na América do Norte.


in “Mulheres Século XX” (excerto)

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As Origens do Totalitarismo

A convicção de que tudo que acontece na terra deve ser compreensível pode levar a interpretar a história por lugares-comuns. Compreender não significa negar o que é ultrajante, deduzir do precedente o que não tem precedentes ou explicar os fenómenos por analogias ou generalidades de modo a que deixem de sentir-se o impacto da realidade ou o choque da experiência. Significa antes examinar e suportar conscientemente o fardo que o nosso século colocou sobre nós – não negando a sua existência nem submetendo-se mansamente ao seu peso. Compreender, em suma, significa enfrentar-se atenta e resistentemente com a realidade seja ela qual for.

O racismo pode sem dúvida implicar a ruína do mundo ocidental e, por este motivo, de toda a civilização humana. Quando os russos se tornarem eslavos, quando os franceses assumirem o papel de comandantes de uma force noire, quando os ingleses passarem a ser “homens brancos”, tal como já, por um infeliz acaso, todos os alemães se tornaram arianos, esta mudança significará o fim do homem ocidental. Porque diga o que disser a erudição dos cientistas, a raça é, em termos políticos, não o princípio da humanidade mas o seu fim, não a origem dos povos mas a sua decadência, não o nascimento natural do homem mas a sua morte contra natura.”


in “O Sistema Totalitário” - 1978






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