SARAH AFFONSO
(Lisboa, Portugal, 1899 - 1983)
Pintora
***
A vida de Sarah Affonso
tem uma relação particular com a sua obra. Foram poucas as mulheres que
souberam transpor em Portugal as barreiras sociais à afirmação das mulheres
como artistas nas primeiras décadas do século XX. Foi a primeira mulher a
frequentar, contra todas as convenções, a “Brasileira”, no Chiado, o que
ilustra não só os preconceitos do seu tempo mas também o espírito independente
com que os encarava.
Mas se, por um lado, o tempo em que viveu condicionou o
seu percurso artístico, foram também as suas vivências e memórias que usou como
matéria-prima da sua arte. Foi a partir da sua própria vida – da infância e e
dos laços de amizade e amor – que construiu uma linguagem e uma temática
próprias.
Em 1934 casa com Almada
Negreiros, que acabara de voltar de uma estadia de sete anos em Madrid. A
prazo, as obrigações de sustentar a sua família, tarefa nem sempre fácil,
concorreram para a voluntária retirada da pintura, em finais dos anos 40. Mas
nos primeiros anos do seu casamento desenvolve o que será a parte mais
importante da sua obra pictórica.
Dos retratos de meninas e mulheres e das
paisagens urbanas passa para composições que incorporam motivos antes
utilizados nos bordados, oriundos da cultura e imaginário populares. Evoca, a
partir da memória da infância passada no Minho, costumes (procissões, festas,
alminhas) e mitologias populares (nomeadamente as sereias).
A obra Casamento na Aldeia, de 1937, é
representativa desta fase da obra de Affonso. Outro motivo frequente é a
família, que retrata num universo íntimo com sugestões mágicas ou lendárias.
in “Museu Calouste Gulbenkian”
(excerto)
Imagem: auto-retrato de Sarah Affonso
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