terça-feira, 14 de agosto de 2018

JOSEPH BRODSKY - A Cura pelo Tédio



JOSEPH BRODSKY
(Leningrado, Rússia, 1940 - Nova Iorque, EUA, 1996)
Poeta, ensaísta

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Recebeu o "Prémio Nobel de Literatura" de 1987.

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A Cura pelo Tédio

Sempre que fores atingido pelo tédio, deixa-te ser esmagado por este; submerge, bate no fundo. Em geral, com as coisas desagradáveis, a regra é: quanto mais cedo bateres no fundo, mais rápido voltas à tona. A ideia aqui é teres logo uma visão completa do pior. A razão pela qual o tédio merece tal escrutínio é que este representa tempo puro não diluído, de uma forma repetitiva, redundante e monótona.

O tédio é a tua janela para as propriedades do tempo, que tendemos a ignorar, necessário ao nosso equilíbrio mental. É a tua janela para o infinito. Uma vez que esta janela se abra, não a tentes fechar. Pelo contrário, abre-a completamente.

O tédio fala a linguagem do tempo, e ensina-te a mais importante lição da tua vida – a lição da tua total insignificância. E por isso é valioso, assim como para aqueles com quem esfregas os teus ombros. «Tu és finito», diz-te o tempo com uma voz de tédio, «e qualquer coisa que faças é, do meu ponto de vista, fútil». 

Como música para os teus ouvidos, claro, não deve contar; contudo, o sentimento de inutilidade, da importância limitada mesmo das tuas melhores, mais ardentes acções, é melhor do que a ilusão das suas consequências e a auto-satisfação correspondente.





in “On Grief and Reason: Essays”



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